O antigo Presidente moçambicano afirmou no tribunal que julga o caso das “dívidas ocultas” nos arredores de Maputo não ter autorizado o então ministro das Finanças, Manuel Chang a contratar as dívidas para o projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva (ZEE).
Armando Guebuza disse no entanto ter concordado com a negociação porque também visava fazer frente aos ataques da Renamo.
Por isso, Guebuza explicou que não fazia sentido ir ao Parlamento pedir autorização em virtude da presença de deputados do principal partido da oposição na Assembleia da República.
“Não autorizei Manuel Chang a contratar as dívidas, mas concordei que houvesse negociação para angariação de recursos para a protecção da nossa Zona Económica Exclusiva”, disse Guebuza nesta sexta-feira, 18, e acrescentou que "o plano visava defender o país das ameaças, entre as quais os ataques da Renamo".
Nesse sentido, Guebuza lembrou que “no Parlamento, tínhamos deputados da Renamo” e, por isso, “não fazia sentido ir lá pedir autorização para comprar armamento para combatê-los”.
“Seria uma atitude irresponsável”, afirmou Guebuza quem, no entanto, negou que a lei tenha sido violada de forma consciente.
O antigo chefe de Estado lembrou agiu na base da confiança que tinha nas pessoas que delegara e que foi nessa base que deu orientação a Manuel Chang para procurar recursos.
Armando Guebuza criticou o facto de o projecto da criação da ZEE ter sido abandonado devido à decisão do Fundo Monetário Internacional de suspender o apoio ao orçamento de Estado, porque “não era a primeira vez em que o país ficava sem apoio”.
"Perdeu-se o sentido da história. Não se devia fazer isso. No passado, nós enfrentamos dificuldades, mesmo assim fomos à luta e vencemos. Na minha opinião, o que falhou foi a implementação. Os barcos continuaram aqui, mas sem navegar. Cruzaram-se os braços. E não devia ter sido assim" disse o ex-estadista.
"No período de transição, sem análise e sem consulta a nós, começou-se a dizer que estava tudo errado e não se fez nada para corrigir. Não há projectos sem erro. Mas, se o projecto estivesse a funcionar, estaríamos a corrigir os erros, mas ele sequer foi implementado", continuou Guebuza, quem reiterou que os ministros da Defesa e das Finanças eram chefes e cabia a eles esclarecer as questões.
Ele reiterou também que que as informações que recebia sobre o andamento do projecto vinham do Comando Conjunto, que era dirigido pelo então ministro da Defesa e actual Presidente da República, Filipe Nyusi.
Nas declarações, ele afirmou estranhar que António Carlos do Rosário tivesse sido nomeado para dirigir as três empresas envolvidas no escândalo que lesou o Estado em 2,2 mil milhões de dólares.
Armando Guebuza continua a responder a perguntas neste segundo dia da sua audiência como declarante.
(Em actualização)