Analistas alertam para o risco de os atuais contatos entre o Governo de Moçambique e o grupo de Mariano Nhongo resultarem na fragilização da Renamo, sobretudo se não forem escrutinados por outros partidos políticos e organizações da sociedade civil.
"Uma democracia é viável com uma oposição forte", considera o sociólogo Lucas Ubisse, para quem " há tentativas por parte da Frelimo, de enfraquecimento da oposição, usando a chamada Junta Militar da Renamo".
Para Ubisse, isso pode colocar em causa o processo de democratização do país", acrescentando que tudo deve ser feito para evitar tal cenário".
Por seu turno, o historiador Francisco da Conceição, afirma ser louvável a iniciativa do Presidente da República, Filipe Nyusi, de contatar a Junta Militar, "mas penso que para ser mais credível, este processo devia envolver outros atores, incluindo a própria Renamo".
Anotou que "depois da morte de Afonso Dlhakama, sobretudo durante as recentes eleições legislativas, presidenciais e para as Assembleias Provinciais, a Frelimo usou a Junta Militar para enfraquecer a Renamo, e se a sociedade civil não estiver atenta, isso pode voltar a acontecer nos contactos que a Frelimo tem estado a manter com o grupo de Mariano Nhongo".
Envolvimento da Renamo
O político Raúl Domingos, líder do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), é também da opinião de que "o Governo usou a Junta Militar para fragilizar a Renamo, mas agora pode não estar nisso".
Para Raúl Domingos, a solução passa por negociações com o grupo de Mariano Nhongo, num processo em que a própria Renamo esteja envolvida.
Refira-se que o presidente da Renamo, Ossufo Momade, diz que nada tem a negociar com a Junta Militar, e para Adriano Nuvunga, diretor executivo do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), "isso não é correto, porque foi a liderança de Momade que deu origem a Mariano Nhongo".
Há quem considere que o Governo pode usar este processo para minar ainda mais o poder da Renamo, mas Nuvunga entende que a participação do Executivo neste processo "é fundamental, porque é co-assinante do acordo entre o Presidente Nyusi e Ossufo Momade, que gerou Mariano Nhongo".