Eleições Americanas 2020
Mesmo com absolvição de Trump, Democratas poderão ter sido os vencedores
Liderança republicana tem agora que tentar unir um partido profundamente dividido quanto ao futuro político do antigo Presidente
A segunda absolvição de Donald Trump pelo Senado americano – agora por incitamento à insurreição – pode ser interpretada à primeira vista como uma derrota para o Partido Democrata, que desde o início do processo sabia que iria ser extremamente difícil, senão impossível, alcançar os dois terços de votos para garantir a impugnação e assim impedir que Trump pudesse voltar a candidatar-se de novo a qualquer cargo político.
Mas na verdade – e pelo menos a curto prazo – quem parece ser mais prejudicado por esse julgamento inconclusivo é o Partido Republicano.
A segunda absolvição pelo Senado de Donald Trump levanta de novo a discussão sobre futuro do antigo Presidente, o que carrega enormes problemas para os republicanos.
Trump continua a gozar de apoio substancial nas bases do Partido Republicano e, dizem muitos analistas, o facto de apenas sete republicanos terem votado a favor da impugnação do Presidente atesta bem a força que ele continua a ter dentro do partido.
Alguns dizem que sem acesso ao seu meio de comunicação favorito, o Twitter, e fazendo agora face a inúmeras investigações aos seus inúmeros negócios, qualquer que seja esse apoio, Trump não tem qualquer possibilidade no futuro.
Um deles é Frank Luntz, especialista em sondagens do Partido Republicano, que disse à cadeia de televisão do Canadá que “o significado (do julgamento) para Donald Trump é que mancha para sempre a sua imagem e embora ele seja ainda um herói para cerca de 20 por da América ....para mais de metade da América ele é um vilão genuíno”.
“Não há sequer uma pequena réstea de esperança para ele se alguma vez quiser voltar à política”, assegurou Luntz.
Base Republicana ainda de forte apoio a Donald Trump
Mas Gillian Turner, da cadeia de televisão Fox, não concorda afirmando que Trump continuará a ter grande poder dentro do Partido Republicano e cita o Senador Lindsay Graham que disse que o seu voto por absolvição tinha como razão de fundo garantir o triunfo em futuras eleições.
“Eu penso que o Presidente Trump continua a ter um controlo muito apertado sobre a vasta maioria do Partido Republicano, talvez não sobre todos os políticos com cargos mas sobre a maior parte”, disse Turner para quem “o voto de absolvição demonstra isso”.
“Ele continua a ter um nível de aprovação de 87% entre republicanos e penso, portanto, que essas duas coisas em conjunto demonstram exactamente o que Lindsay Graham disse”, afirmou a correspondente da Fox para quem mais importante “é saber se o líder dos republicanos no Senado tem algum controlo sobre o seu grupo parlamentar".
“Penso que isso é muito menos claro do que a questão de Trump”, acrescentou.
Divisões dentro do Partido Republicano
O líder republicano no Senado, Mitch McConnel teve palavras ásperas à actuação de Donald Trump durante a invasão do edifício do Congresso mas votou pela sua absolvição alegando princípios constitucionais e isso pode levantar-lhe problemas.
Por exemplo, o senador epublicano Bills Cassidy votou a favor da impugnação do antigo Presidente e de imediato foi alvo de uma censura por parte de republicanos no seu Estado, a Louisiana, levantando-se a hipótese de ele e outros que fizeram o mesmo terem que fazer face em eleições primárias contra republicanos que apoiam incondicionalmente Trump.
Para além de Cassidy, há outros na mesma posição como a Senadora Liz Chenney.
Mas Cassidy mostrou-se confiante que com o tempo a força de Trump "vai desvanecer-se”.
“O Partido Republicano é mais do que uma pessoa. O Partido Republicano são ideias”, disse o senador para quem “o povo americano quer essas ideias mas quer também um líder que pode assumir a responsabilidade pelas suas acções e um líder em quem podem confiar”.
“Penso que teremos uma liderança diferente mas ainda com essas ideias”, disse.
De imediato contudo o que é certo é que o Partido Republicano faz face a uma crise de identidade reflectida em divisões internas entre a base “trumpista” e aqueles que querem alargar a base de apoio do partido com olhos nas legislativas de 2022.
E se essas divisões continuarem por muito temo quem ganhou com o julgamento de Trump foi o Partido Democrata.
- VOA Português
Advogados abandonam defesa de Donald Trump a poucos dias do julgamento da impugnação
Juristas discordaram da estratégia do antigo Presidente de insistir que houve fraude generalizada na eleição de Novembro
A 100 dias do início do julgamento da impugnação do antigo Presidente Donald Trump no Senado, cinco advogados da equipa dele abandonaram o processo e há informações de “desordem” na defesa do republicano.
Dois proeminentes advogados da Carolina do Sul, Butch Bowers e Deborah Barbier, apontados como os principais defensores de Trump, anunciaram no sábado, 30, o abandono da equipa devido a divergências na estratégia de defesa com o antigo Presidente.
Outros três advogados que supostamente trabalharam com o antigo Presidente também deixaram a equipa.
Donald Trump enfrenta acusações de “incitamento à insurreição” no dia 6 de Janeiro quando seus apoiantes invadiram violentamente o Capitólio, no momento em que o Congresso validava a vitória de Joe Biden na eleição de 3 de novembro.
Fontes citadas pela imprensa indicam que o antigo Presidente quer que a defesa assente a sua estratégia na preseunção falsa de que ele foi vítima de fraude eleitoral generalizada, ao contrário de se concentrar nas acusações de insurreição.
Observadores dizem que Trump deve ser abolvido depois de 45 senadores republicanos terem votado recentemente a favor de uma resolução que considerava inconstitucional a impugnação, em virtude de ter terminado o seu mandato.
Donald Trump é o primeiro Presidente dos Estados Unidos a ser impugnado duas vezes, a primeira por abuso de poder e obstrução ao Congresso e agora por incitação à insurreição.
Ele, no entanto, não foi condenado no Senado devido à maioria dos votos dos republicanos.
- VOA Português
Donald Trump vai voltar ao cabeçalho das notícias
Julgamento no Senado começa no dia 8 de Fevereiro apesar de dúvidas constitucionais e se Republicanos votarão contra o antigo presidente
Donald Trump pode já não estar na presidência e não ter acesso constante aos microfones da televisão e também ao seu meio de comunicação preferido o Twitter que o expulsou da plataforma.
Mas o que é agora certo é que no inicio do próximo mês Donald Trump vai voltar ao cabeçalho dos jornais quando se iniciar o julgamento no Senado sob a acusação aprovada pela Câmara dos Representantes de incitamento à rebelião.
É algo que está provocar já intenso debate com muitos a interrogarem-se sobre qual o o objectivo disso, agora que Donald Trump já não está na presidência. Alguns políticos afirmam mesmo que num país profundamente dividido isso será como atirar gasolina à fogueira.
O objectivo político é o de impugnar o presidente no Senado, o que a a acontecer o irá proibir de participar em acções políticas no futuro, isto numa altura em que há notícias que Trump quer formar um novo partido político, o Partido Patriótico.
A constitucionalidade ou não do julgamento
A nível jurídico há quem interrogue mesmo a constitucionalidade de levar um ex- presidente a julgamento no Senado. Diz esse argumento que o Senado não pode julgar alguém que já não ocupa um cargo oficial porque isso será usurpar o papel dos tribunais.
Mitt Romney Senador Republicano que apoiou a impugnação de Trump na Câmara dos Representantes discorda dessa interpretação. Ele disse à CNN ter lido vários artigos jurídicos sobre questão e “a preponderância da opinião jurídica é que um julgamento de impugnação depois de alguém abandonar o seu cargo público é constitucional”.
“Eu acredito ser esse o caso mas vou ouvir o que os advogados têm a dizer para cada uma das partes mas penso que é bem claro que é constitucional”, acrescentou.
Mas mesmo que o caso prossiga no Senado – o que vai acontecer tendo em conta a maioria Democrata – isso não significa que Trump irá ser impugnado. Para isso é preciso que dois terços dos senadores votem a favor da impugnação o que significa que 17 dos 50 Republicanos terão que votar a favor.
Gerald Seib um dos directores executivos do jornal Wall Street Journal e que chefia a cobertura da Casa Branca e Congresso disse que “essa possibilidade é muito pouca”.
“Penso que vai haver alguns mas ficaria surpreendido se houver 17”, acrescentou.
A analista Democrata Donna Brazille concorda mas fez notar que recentemente o líder do partido Republicano no senado Mitch McConnell culpou o presidente pela invasão do edifício do Congresso, o que pode indicar uma mudança nos círculos Republicanos.
“Eu penso que vai ser difícil ter 17 Republicanos mas por outro lado quando Mitch McConnell falou no Senado a 19 de Janeiro fiquei surpreendida com os seus comentários”, disse à cadeia de televisão FOX acrescentando que por outro lado “é importante que haja essa votação e responsabilizem o antigo presidente”.
Julgamento poderá atrasar agenda de Biden
O que é certo contudo é que o julgamento de Trump no Senado surge numa altura pouco propícia para o presidente Joe Biden com uma agenda de nomeações para cargos de governo e programas governativos que têm que ser aprovados pelo Congresso. Para além disso para Biden - que fez um discurso de tomada de posse baseado na reconciliação - o julgamento pode ser visto como um acto de vingança política que visa afastar Trump da cena política.
Geral Seib do Wall Street Journal disse à cadeia de televisão FOX ser para ele óbvio que “o presidente Joe Biden nunca expressou muito entusiasmo por este julgamento de impugnação”.
.”Na Casa Branca não se opõem mas penso que estão conscientes que isto tem todo o potencial de ser uma distracção enorme que vai atrasar como o pacote para o combate ao coronavírus e também nomeações e confirmações de pessoas para o gabinete de Biden vão também ser atrasadas pelo julgamento de impugnação e isso não faz ninguém na nova admInistração contente”, afirmou Seib para quem apesar dessa “falta de entusiasmo” o julgamento no Senado vai acontecer.
“Um dos efeitos secundários disto que penso ser irónico é que isso vai dar a Donald Trump aquilo que ele mais quer que é mais atenção e mais oxigénio e isso não agrada também a muitos Republicanos”, acrescentou.
O julgamento de Trump começa no dia 8.