Última base da Renamo encerrada na Gorongosa apesar do descontentamento de guerrilheiros

Filipe Nyusi, Presidente da República, e Ossufo Momade, presidente da Renamo, após assinatura do acordo de paz (Foto de Arquivo)

Vários ex-combatentes admitem que muitas promessas continuam por cumprir.

A principal base da Renamo, oposição, encerrou nesta segunda-feira, 19, na Gorongosa, no centro de Moçambique, colocando fim ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), que continua a enfrentar muita crítica e descontentamento dos guerrilheiros.

Os antigos combatentes admitem que muitas promessas continuam por se cumprir.

Este último capítulo abarcou 350 guerrilheiros, incluindo 50 mulheres, pondo fim ao processo que abrangeu mais de cinco mil guerrilheiros.

O enviado especial do Secretário-geral da ONU, Mirko Manzoni, que dirigiu o grupo de contacto do DDR, considerou o encerramento da base como “um ganho” para a democracia e elogiou o empenho e o compromisso das autoridades governamentais e da Renamo.

“É um bom resultado porque o compromisso era de que todos os ex-guerrilheiros deveriam regressar a casa para o natal deste ano”, com o encerramento das bases, disse Mirko Manzoni.

Entretanto, a Renamo continua a exigir o enquadramento dos guerrilheiros nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e no exército, além da fixação de pensões para os desmobilizados, uma insatisfação de milhares dos antigos guerrilheiros que tem elevado o descontentamento sobre o processo.

Por seu lado, Mirko Manzoni classificou a insatisfação como “uma polémica sem fundamento” e considerou que “não podemos integrar na polícia pessoas que tem 60 anos, temos que integrar pessoas que respeitam critérios mínimos, como a idade, a saúde”.

Ele realçou que muitos dos ex-guerrilheiros estão fora de padrão de integração, mas disse estar em discussão a possibilidade de integração dos filhos dos combatentes nas FDS.

Antigos combatentes descontentes

Em declarações à VOA, vários ex-combatentes admitem que muitas promessas continuam por se cumprir, quando o DDR é dado por terminado, e não se vislumbra um fim à vista das insatisfações.

“Muitos de nós tem família por sustentar, e continuamos sem nenhuma fonte de renda, e isso está a complicar a nossa nossa sobrevivência e a tornar difícil a convivência” nas aldeias acolhedoras, disse à VOA, Manuel Chaguiro, um ex-guerrilheiro da Renamo em Sofala.

Entre as promessas, adiantam, os combatentes desmobilizados devem receber uma pensão de sobrevivência paga pelas Nações Unidas através do Governo moçambicano, durante um ano, e após este período, os ex-guerrilheiros passam a receber uma pensão vitalícia do Estado.

Além de atribuição de talhões em áreas urbanas, os ex-guerrilheiros deviam receber “kits” de ferramentas e fundos para desenvolver projetos de geração de renda, na área de vocação.

Sem pensão automática

Outro ex-combatente de Manica, João Ruben, conta que parte dos ex-guerrilheiros “venderam o material de construção entregue durante a desmobilização” para conseguirem sobreviver com as famílias nas cidades, que continuam sem rendimento.

Por sua vez, Bonifácio Cherene, outro ex-guerrilheiro, entende que fora aquele subsídio de reintegração pago por um ano, aquando da desmobilização, ninguém mais teve acesso ~`a “pensão automática”, que deveria refletir nas contas abertas no âmbito do DDR.

“Já vão dois anos, que estamos à espera. Agora que todos já foram desmobilizados, que esperança temos”, questionou, salientando que o processo foi aliciador, mas contudo, “com falsidade e incumprimentos”.

Ao todo 19 bases da Renamo foram desativadas no âmbito do DDR, um processo visto pelos beneficiários ainda como espinhoso.