O empresário angolano Álvaro Sobrinho está impedido de deixar Portugal, enquanto não pagar uma caução de seis milhões de euros, enquanto sobre ele mantém-se a medida de coação de Termo de Identidade e Residência que lhe foi anteriormente aplicada.
Depois de ter sido interrogado durante horas pelo juiz Carlos Alexandre no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa, nesta quinta-feira, 17, o advogado de Sobrinho , citado pela Sic Notícias, informou da caução mas garantiu que “não há arrestos, não se falou em nada disso".
“Trata-se de uma decisão normal na justiça, é uma decisão com a qual nós naturalmente não concordamos, da qual vamos interpor recurso”, acrecentou Artur Marques que não adiantou mais pormenores, nem o teor do interrogatório.
Veja Também Accionistas do ex-BESA acusam Álvaro Sobrinho de mentir e de desviar dinheiroO Conselho Superior da Magistratura (CSM) confirmou a caução, em comunicado, e que Sobrinho fica também obrigado a apresentações trimestrais às autoridades portuguesas e sujeito à "proibição de se ausentar para fora da zona Schengen, com a concomitante entrega imediata dos seus passaportes".
O processo
A estação televisiva CNN Portugal revelou também hoje que Sobrinho estava a ser ouvido por suspeitas de burla ao BESA, que presidiu entre 2001 e 2012, em cerca de 500 milhões de euros.
Em causa, alegados crimes de burla qualificada e branqueamento de capitais.
Veja Também Accionistas do ex-BESA acusam Álvaro Sobrinho de mentir e de desviar dinheiroO empresário angolano é acusado de ter recebido 352 milhões de euros através de três empresas angolanas, aos quais se juntam mais 148 milhões por intermédio de duas sociedades offshore.
Nova denúncia
Na terça-feira, 15, a organização de jornalistas de investigação Projecto de Reporte sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, na sigla em inglês), divulgou no seu site um relatório que revela que Álvaro Sobrinho aparece agora ligado em novos documentos e testemunhas a um esquema que terá desviado centenas de milhões de dólares de um financiamento governamental para a construção de habitações sociais, que nunca saiu do papel.
Veja Também Investigação implica empresário Álvaro Sobrinho num desvio de milhões de dólares em AngolaUm director de uma companhia que recebeu uma linha de crédito de 750 milhões de dólares para a construção de habitações sociais disse àquela organização que Sobrinho e seus associados retiraram parte desse crédito através de um esquema que envolveu companhias offshore.
A mesma fonte acrescenta que uma investigação dos Serviços de Inteligência de Angola indicou que o dinheiro desse projecto foi desviado por figuras poderosas do país, mas cujos nomes não revela.
Documentos de bancos analisados por jornalistas apontam, no entanto, que o dinheiro que deveria ter sido entregue ao construtor foi movimentado através do Banco Espírito Santo Angola, mas nunca foi enviado à companhia.
Veja Também Falência do BESA foi política, revela Álvaro SobrinhoNa altura em que se procurava financiar o projecto de habitações, Sobrinho abriu contas no banco Credit Suisse num valor superior a de 78 milhões de francos suíços, mais de 72 milhões de dólares ao câmbio de então, revela a OCCRP que acrescenta que o empresário possuía um total de 12 contas no Credit Suisse.
O OCCRP diz que "Sobrinho negou ter roubado quaisquer fundos e diz que o financiamento para o projecto foi cancelado e que nenhum empréstimo foi desembolsado".