O dia 9 de setembro de 2023 passou a ser histórico para a União Africana (UA), com a organização que reúne 54 países africanos a garantir um lugar permanente no grupo das maiores economias do mundo, o G20.
Esta decisão, anunciada em Nova Deli, na India, terá implicações decisivas para o papel de África na geopolítica global.
Com o continente a enfrentar uma série de desafios, que vão desde os efeitos das alterações climáticas à instabilidade política e à desigualdade económica, especialistas discordam sobre o impacto da adesão ao G20.
Robert Besseling, presidente e diretor executivo da Pangea-Risk, um grupo de consultoria de inteligência com escritórios na África do Sul e na Grã-Bretanha, em conversa com a Voz da América, diz tratar-se de algo mais simbólico do que substantivo.
Golpes e eleições duvidosas, uma dificuldade
Para ele, “o assento da UA no G20 não terá sentido”, se a UA não reagir de forma decisiva a acontecimentos que incluem “a onda de golpes militares e eleições duvidosas que atrasam a trajetória democrática de África nos últimos meses”.
Sete países africanos tiveram golpes de Estado liderados por militares desde 2020, o que levanta dúvidas sobre a estabilidade política, condição básica para que problemas prementes como o terrorismo e a escassez de alimentos em muitos países sejam enfrentados.
Outro entendimento tem Dennis Matanda, professor adjunto de política americana e negócios internacionais na Universidade Católica, que ao falar no programa televisivo “África 54”, do serviço da Voz da América em inglês, considera que a adesão de África ao G20 pode render dividendos.
“Há aqui uma oportunidade real para a União Africana sentar-se à mesa. E isto é uma força e esta é a oportunidade”, destaca Matanda, para quem “o significado aqui é que, pela primeira vez, a União Africana está a ser justaposta à União Europeia”.
Robert Besseling, no entanto, tem dúvidas sobre a capacidade da UA em agir de forma coesa, e afirma que a adesão da UA ao G20 é impulsionada principalmente pelas tensões no cenário mundial entre alianças concorrentes.
“O G20 está a tornar-se cada vez mais um contrapeso aos BRICS, liderados pela China, e a entrada da UA deve ser vista nesse mesmo contexto de rivalidade geopolítica”, destaca Besseling.
A hora dos africanos olharem para seus interesses
Numa nota mais positiva, aquele consultor aponta que a entrada da UA no G20 pode, no entanto, ajudar a diversificar as alianças globais e abrir novos caminhos para a cooperação.
Por outro lado, Dennis Matanda afirma ter chegado a hora de os países africanos defenderem os seus próprios interesses e deixarem de ser usados para promover os objetivos das potências mundiais.
“Penso que precisamos deixar de pensar no que os outros lugares querem, no que a China quer, no que a Europa quer, e iniciar o processo de geração da própria narrativa de África”, sustenta Matanda. Aquele académico afirma ainda que a “África, a União Africana, precisa realizar uma avaliação abrangente das suas oportunidades, e a principal oportunidade aqui são as instituições financeiras de desenvolvimento da região”.
À medida que o G20 evolui para um fórum de influência considerável, Matanda considera que a presença da UA amplia a voz do continente na arena mundial.
“Se quiserem que o capital global aja em África, é preciso que se juntem à mesa com as melhores pessoas que possam realmente controlar as finanças e basicamente canalizar esses recursos para as oportunidades que proporcionam o impacto mais eficaz para a região, e a partir dessa perspetiva precisamos e lembrar que a União Africana pode ser tudo o que quiser, mas precisa de ter mais poder”, conclui Matanda.
Salem Solomon