O líder mercenário russo Yevgeny Prigozhin, que na sexta-feira, 23, apontou seus combatentes do Grupo Wagner contra os líderes militates de Moscovo, vai passar a viver na Bielorrússia e viu as autoridades russas retirar todas as acusações contra ele devido à revolta que protagonizou.
Essa mudança decorre do acordo negociado pelo Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, com Prigozhin, que teve a aprovação do Presidente russo, Vladimir Putin, segundo o gabinete do Chefe de Estado do país vizinho.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que o acordo também garante que também os combatentes de Wagner não serão alvo de processo criminal ou militar.
Veja Também Combatentes de Prigozhin avançam em direcção a Moscovo“Sempre respeitamos seus feitos heróicos na frente”, afirmou ele, acrescentando que Moscovo agradeceu a Lukashenko pelo seu papel na solução da crise.
Aos combatentes que não participaram da rebelião, Peskov adiantou que seriam oferecidos contratos com o Ministério da Defesa, que tem procurado colocar todas as forças voluntárias autónomas sob seu controlo até o dia de Julho.
Questionado se haverá alguma mudança a nível do Ministério da Defesa como parte do acordo, Peskov respondeu que "esses assuntos são prerrogativa exclusiva e de competência do Comandante-em-Chefe Supremo, de acordo com a constituição do Federação Russa, sendo improvável que esses tópicos possam ter sido discutidos durante os contactos mencionados acima".
Your browser doesn’t support HTML5
O porta-voz do Kremlin não revelou se houve alguma concessão para persuadir Prigozhin a retirar todas as suas forças, além das garantias para sua segurança – algo sobre o qual ele disse que Putin deu sua palavra – e para a segurança dos homens de Prigozhin.
Peskov, entretanto, classificou os eventos de sexta-feira de "trágicos".
Nas primeiras horas deste sábado, Yevgeny Prigozhin e seus combatentes chegaram a estar cerca de 200 quilómetros da capital Moscovo, antes dele ordenar que as suas tropas regressassem às bases na Ucrânia para, alegadamente, evitar derramamento de sangue.
Numa mensagem em áudio divulgada pelo seu serviço de imprensa, Prigozhin disse: "Eles queriam desmantelar a companhia militar Wagner. Embarcamos numa marcha pela justiça a 23 de Junho. e em 24 horas chegamos a 200 quilómetros de Moscovo, nesse período não derramamos uma única gota do sangue dos nossos combatentes".
Veja Também Zelenskyy diz que a Rússia não pode continuar a esconder o seu "caos""Agora chegou o momento em que o sangue pode ser derramado. Compreendendo a responsabilidade de que o sangue russo seja derramado de um lado, estamos mudando as nossas colunas e regressando aos campos conforme planeado", disse na mensagem divulgada no Telegram.
O líder do grupo mercenário não disse se o Kremlin respondeu à sua exigência de derrubar o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, ou o que Lukashenko lhe prometeu nas negociações.
Antes, as forças de segurança tomaram conta das principais estadas de acesso a Moscovo e lugares sensíveis da capital.
O Presidente Vladimir Putin, que ainda não havia se manifestado desde o início da crise, foi à televisão e numa mensagem à nação, ameaçou esmagar qualquer a rebelião e chamou o seu amigo de longa data de "traidor" e a acção de uma "facada nas costas".
No final de sábado, os combatentes mercenários russos foram vistos a deixar Rostov-on-Don, uma cidade de mais de um milhão de pessoas perto da fronteira com a Ucrânia que eles haviam assumido o controle um dia antes.
E foram aplaudidos pelos residentes.
Casa Branca e líderes mundiais em alerta
Os Estados Unidos e seus aliados mantiveram consultas permanentes durante todo o dia de sábado, sem, no entanto, fazerem pronunciamentos.
O presidente dos EUA, Joe Biden, conversou com os líderes da França, Alemanha e Grã-Bretanha em meio a preocupações de que o controlo do Presidente russo, Vladimir Putin, sobre o país com armas nucleares possa estar a diminuir.
Biden e a vice-president Kamala Harris encontraram-se com o secretário de Defesa, o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o Director Nacional de Inteligência e o director da CIA.
O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, também conversou com seus colegas do Canadá, da França, da Alemanha, do Reino Unido e da Polícia, de acordo com seu porta-voz.
O chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, cancelou uma viagem a Israel e Jordânia, um sinal da grave preocupação na capital norte-americana.
O secretário de Estado Antony Blinken falou ao telefone com seus homólogos da Europa Ocidental e do Japão, tendo todos prometido"manter uma coordenação estreita", segundo revelu o porta-voz do Departamento de Estado, Matt Miller.
O chefe da Relações Exteriores da União Européia, Josep Borrell, evitou fazer comentários directos sobre o que chamou de assunto interna russa.
Mas ele disse que activou o centro de resposta a crises da União Europeu.
Na Rússia
O Governo russo alertou aos Estados Unidos e aliados a manterem-se afastados da situaçao.
"A rebelião faz o jogo dos inimigos externos da Rússia", disse o Ministério das Relações Exteriores um comunicado.
"Advertimos os países ocidentais contra qualquer indício de possível uso da situação interna da Rússia para atingir seus objectivos russofóbicos", concluiu a nota.
Por seu lado, o Governo da Bielorússia aliado de Moscovo, chamou a rebelião de um presente para o Ocidente.