Há dez anos, centenas de líderes africanos tem uma oportunidade única: conectar com outros jovens para transformar o futuro da África.
O Mandela Washington Fellowship do Young African Leaders Initiative (YALI), criado pelo então presidente Barack Obama, é um programa do governo americano de empoderamento, treinamento e networking nas áreas de negócios, engajamento cívico e administração pública.
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Anualmente, 700 jovens africanos de 25 a 35 anos com contribuições excecionais às suas comunidades, são selecionados num processo competitivo em setembro. Durante seis semanas no meio do ano, recebem bolsas de estudos para diversas universidades americanas para trocar conhecimento, conhecer pessoas, e expandir horizontes.
Ao final, encontram-se em Washington DC para uma conferência de três dias antes de regressar aos seus países e colocar em prática novos projetos. O evento aconteceu entre os dias 29 a 31 de julho, no Omni Shoreham Hotel, e deu aos jovens a oportunidade de compartilhar experiências e conectar com outros profissionais.
No evento de abertura, a embaixadora dos EUA as Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, relembrou a trajetória desta iniciativa, com 7,200 participantes em uma década, e reconheceu o trabalho dos bolseiros de 2024 preservando o meio-ambiente, a democracia, lutando por direitos, empoderando mulheres, e cuidando das suas comunidades.
“A verdade é que, embora África seja um continente rico em recursos, a próxima geração – você, a vossa geração – é o maior recurso de África de todos,” disse Thomas-Greenfield a uma plateia lotada.
Este ano, 33 bolseiros YALI são de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Rosineida Lima, bióloga especializada em conservação do meio ambiente em Cabo Verde, diz que conectar com outros líderes africanos e ver como as comunidades se juntam para desenvolver nos Estados Unidos foi uma das melhores experiências do programa.
“O que vou levar de melhor é essa noção de que juntos somos mais fortes,” disse Lima.
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Durante o mês e meio na universidade em Fort Myers, na Florida, a bióloga aprendeu sobre os desafios parecidos que Cabo Verde e o estado enfrentam para preservar as tartarugas marinhas, e novas soluções para conservar a biodiversidade.
Quelita Gonçalves é representante da Agência das Nações Unidas para as Migrações em Cabo Verde. Parte da sua missão é mobilizar a diáspora cabo-verdiana para conseguir investimento e gerar mais empregos no país.
Ao chegar em Massachusetts para o curso de gestão pública, ficou surpreendida com o reconhecimento e informação que as pessoas tinham do seu país. Uma reflexão, segunda ela, do trabalho e investimento que toda a comunidade na diáspora faz em relação a educação, crescimento, e liderança.
“Isso encheu o meu coração de orgulho, de ser cabo-verdiana, estar em Massachussets, em Bridgewater, e poder vivenciar isso o quanto a nossa comunidade já fez, o quanto a nossa comunidade já progrediu,” disse Quelita.
Os outros bolseiros YALI também não esperavam por isso.
“Meus colegas vieram perguntar-me: nós viemos da África e não conhecemos Cabo Verde, não ouvimos falar. Como é que chegamos agora, em Bridgewater, e estamos ouvir a falar de Cabo Verde por todos os lugares aonde vamos?”
Rosineida Lima chegou a mesma conclusão.
“Conhecemos às vezes mais sobre outros países fora do continente africano. Temos que conhecer mais o nosso continente, e conectar-nos mais e melhor para que no futuro tenhamos uma África mais desenvolvida.”
Alfredo Zunguze, de Moçambique, é engenheiro rural e coordenador de projetos numa organização não governamental italiana que dá suporte ao Município da Beira em gestão de resíduos sólidos e do meio ambiente. No programa, fez gestão pública em UC Davis, na Califórnia, e também acredita que o mais valioso foi estar rodeado de outros jovens inspiradores.
“Expôs-me no meio com diferentes líderes africanos com mentes brilhantes, e isso desafiou-me,” disse Alfredo, acrescentando que já está ciente dos seus próximos passos: “Uma das coisas que tenho que tomar para poder fazer grandes mudanças é aumentar a conexão com outros jovens líderes ao longo da África e também em Moçambique.”
Para os que acreditam que somente podem alcançar objetivos os que têm "costas quentes" ou contactos fortes, ele aponta para a sua candidatura no programa como prova do contrário.
“É possível, com trabalho árduo e fé, alcançar coisas grandes,” disse Alfredo. “Um exemplo é este 'fellowship', algo que apliquei sem nenhuma conexão.”
“Se o nosso trabalho tem impacto, ainda que seja pequeno, se nós estamos a trabalhar de uma forma dedicada e com paixão, nós podemos ir longe.”
Sebastian Kruse, é treinador de dança e performance para fortalecer saúde física e mental, e usa as redes sociais como o seu maior instrumento de trabalho. Disse que mesmo com relativamente poucos seguidores, as suas publicações constantes e intensas o levaram a coisas inesperadas, como treinar a artista Madonna.
Depois do intercâmbio nos Estados Unidos, o cabo-verdiano nascido na Suíça sente-se mais motivado a contribuir para o desenvolvimento de África.
“Eu represento a nova geração de africanos que quer voltar como a diáspora para o continente do futuro,” disse Sebastian, acrescentando a importância do YALI em construir fortes relações na região.
“Eu vim para a América me conectar com a África.”
Para os jovens que procuram oportunidades como essa, Rosineida Lima diz que devem buscar informação nas embaixadas americanas dos seus país e conectarem-se com outras pessoas. Mas acima de tudo, lembra que todos podem fazer a diferença.
“Não há necessidade de ser um YALI para ser um jovem líder. Pode ser um jovem líder a qualquer momento dentro da sua comunidade.” Disse Lima.