Xanana Gusmão critica mundo que "alimenta guerras, mas não crianças"

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Assembleia Geral da ONU

Xanana Gusmão lembrou que os que os países que menos contribuíram para a crise global são os "que sofrem primeiro" e pediu uma reforma do Conselho de Segurança da ONU.

O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, criticou “políticas internacionais egoístas que valorizam mais o lucro e o poder do que a dignidade humana”. Ao discursar na "Cimeira do Futuro", em Nova Iorque, Xanana Gusmão questionou na ONU domingo, 22, o mundo que "alimenta guerras, mas não crianças".

O primeiro-ministro descreveu a situação dos países menos desenvolvidos e dos pequenos estados insulares em desenvolvimento, que muitas vezes são “vítimas de atores e políticas internacionais egoístas que valorizam mais o lucro e o poder do que a dignidade humana. E, à medida que a crise se intensifica, mais e mais pessoas sofrem de fome”.

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"Em que tipo de mundo estamos a viver, onde podemos alimentar guerras, mas não podemos alimentar crianças", declarou Xanana Gusmão. Segundo o primeiro-ministro, “sem paz não existem condições para o desenvolvimento”.

Recordando que a ONU tinha o objetivo da preservação da paz global, dos direitos humanos e do desenvolvimento, disse que hoje o mundo "vive uma era de desordem, incerteza, instabilidade e conflito". Frente aos líderes mundiais, Xanana Gusmão lembrou que os que os países que menos contribuíram para a crise global são os "que sofrem primeiro, os que sofrem mais e muitas vezes sofrem isolados" e pediu soluções.

"Os países menos desenvolvidos e os pequenos estados insulares em desenvolvimento esperam pacientemente por soluções mais flexíveis, inclusivas e responsáveis", salientou, sublinhando que os meios e o financiamento para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS, “são escassos”.

São "insuficientes para combater a pobreza extrema, a insegurança alimentar, a crise humanitária, as mudanças climáticas e a degradação ambiental que ameaçam a existência" de algumas nações, sobretudo no Pacífico, afirmou o primeiro-ministro timorense.

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Tomando o 25.º aniversário do referendo pela independência de Timor-Leste como exemplo, Xanana Gusmão defendeu o Saara Ocidental, que "espera pelo seu referendo desde 1992, há 32 anos", como outras nações.

"O direito internacional ainda não chegou a esta última colónia na África ignorada e esquecida. A comunidade internacional ainda não encontrou soluções multilaterais para o futuro da paz para muitas nações ao redor do mundo, da Palestina à Ucrânia, do Iémen ao Sudão ou à República Centro-Africana, onde as forças de manutenção da paz estão lá há quase três décadas", disse.

No seu discurso, o líder de Timor-Leste pediu uma reforma estrutural do Conselho de Segurança, um pedido feito há décadas por outros líderes. "É difícil realizar princípios de transparência, responsabilidade e confiança enquanto países ricos e desenvolvidos continuam a tomar decisões para os pobres e em desenvolvimento", lembrou.