Vladimir Putin, reeleito para mais seis anos no Kremlin de acordo com os resultados parciais de uma eleição presidencial sem oposição, pintou o quadro de uma Rússia "consolidada" pela sua vitória e que não se deixará "intimidar" pelos seus opositores.
A eleição de três dias que começou na sexta-feira para prolongar o governo de 24 anos de Putin por mais seis anos teve lugar num ambiente rigidamente controlado, onde não foram permitidas críticas públicas a Putin ou à sua guerra na Ucrânia.
Putin obteve 87,8% dos votos, o resultado mais elevado de sempre na história da Rússia pós-soviética, de acordo com uma sondagem à saída da Fundação de Opinião Pública (FOM). O Centro de Investigação da Opinião Pública Russa (VCIOM) atribuiu a Putin 87% dos votos. Os primeiros resultados oficiais indicam que as sondagens estavam correctas.
Os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido e outras nações afirmaram que a votação não foi livre nem justa devido à detenção de opositores políticos e à censura.
O inimigo político mais feroz de Putin, Alexey Navalny, morreu numa prisão do Ártico no mês passado, e outros críticos estão na prisão ou no exílio. Mas, atendendo ao último pedido político de Navalny, longas filas de eleitores apareceram nas assembleias de voto das principais cidades, precisamente ao meio-dia, para votar contra Putin, 71 anos, de forma simbólica, ainda que fútil.
Os associados do principal crítico de Putin, Navalny, encorajaram as pessoas a participar no protesto, que o próprio Navalny apoiou pouco antes da sua morte súbita numa prisão siberiana em fevereiro.
Falando após serem conhecidos quase todos os resultados Putin disse que a morte do falecido líder da oposição Alexei Navalny foi um "acontecimento triste" e que tinha concordado com uma troca de prisioneiros envolvendo o líder da oposição Alexei Navalny antes da sua morte na prisão no mês passado.
Putin afirmou que a principal condição que tivera para a troca era que Navalny não regressasse à Rússia.
Navalny era o mais feroz opositor interno de Putin. Os seus aliados acusam Putin de o ter mandado assassinar, algo que o Kremlin nega.
A agência noticiosa Reuters divulgou os outros resultados, com o candidato comunista Nikolai Kharitonov a ficar em segundo lugar, com pouco menos de 4% dos votos, o recém-chegado Vladislav Davankov em terceiro e o ultranacionalista Leonid Slutsky em quarto.
"As eleições não são obviamente livres nem justas, dada a forma como Putin prendeu opositores políticos e impediu outros de concorrerem contra ele", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, segundo a Reuters.
Protestos dentro e fora da Rússia
Para o protesto, denominado "Meio-dia contra Putin", os russos descontentes com Putin dirigiram-se às suas assembleias de voto locais ao meio-dia para votar num dos três candidatos que concorrem contra ele ou anular o seu voto como forma de protesto.
Outros, entretanto, disseram que iriam escrever no nome de Navalny. A sua morte, no mês passado, deu origem a manifestações populares em todo o país, que as autoridades russas se apressaram a eliminar.
Foram também registadas várias dezenas de casos de vandalismo nas assembleias de voto.
O grupo OVD-Info, que regista as detenções políticas na Rússia, afirmou que mais de 50 pessoas foram detidas em 14 cidades do país no domingo.
Putin afirmou já esta segunda-feira que as forças da ordem iriam tomar medidas contra as pessoas que anularam os seus votos nas eleições presidenciais.
Protestos semelhantes parecem ter tido lugar nas embaixadas russas em todo o mundo. Nas assembleias de voto das missões diplomáticas russas na Austrália e na Arménia, no Cazaquistão e no Japão, centenas de russos fizeram fila ao meio-dia.
Na capital alemã, Berlim, a viúva de Navalny, Yulia Navalnaya, que se tornou o rosto da sua campanha após a sua morte, apareceu na embaixada russa para participar no protesto, enquanto os presentes aplaudiam e cantavam o seu nome.
"Alexey lutava por coisas muito simples: pela liberdade de expressão, por eleições justas, pela democracia e pelo nosso direito a viver sem corrupção e sem guerra", afirmou Navalnaya numa mensagem enviada a um comício em Budapeste, a 15 de março. "Putin não é a Rússia. A Rússia não é Putin".
Mas apesar da demonstração de oposição a Putin, o líder russo de longa data tem garantida a sua reeleição. E qundo completar o seu mandato de seis anos, ultrapassará Josef Estaline e tornar-se-á o líder russo há mais tempo no poder em mais de dois séculos.
A eleição tem como pano de fundo a atual guerra da Rússia na Ucrânia, que já vai no seu terceiro ano. Na véspera das eleições, Putin apresentou a guerra como uma luta existencial da Rússia contra o Ocidente.
c/ Reuters e AFP