Vera Daves: Angola espera melhor momento para colocar mil milhões de dólares no mercado

Vera Daves, ministra das Finanças de Angola em entrevista à VOA, Washington, 15 Abril 2023

Ministra das Finanças de Angola diz que o país "está a fazer o caminho de sair de um cenário em que tinha um rácio de dívida pública sobre o PIB de 130%, em 2020, para um outro em que tem um rácio em torno de 66%”, mas “não queremos voltar lá para trás"

O Governo de Angola e o Banco Mundial (BM) assinaram em Washington um acordo que vai financiar acções em vários municípios, visando pavimentar o caminho para as eleições autárquicas.

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Angola irá ao mercado de títulos na melhor altura, diz ministra das Finanças


Em entrevista à Voz da América, a ministra das Finanças de Angola diz que o seu Governo estuda o melhor momento para colocar no mercado mil milhões de dólares e aborda a retoma da economia do país que, segundo Vera Daves, conseguiu “aguentar” a crise provocada pela pandemia.

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Entrevista com Vera Daves: Angola espera melhor momento para colocar mil milhões de dólares no mercado

O fundo disponibilizado pelo BM vai permitir aos municípios seleccionados criar condições de prestação de serviço, tendo em vista as eleições autárquicas.

“Estas administrações municipais deverão receber um valor financeiro, ou seja, vão trabalhar para prestar um melhor serviço público e ganhar dinheiro por isso, para reforçar a sua capacidade territorial, a capacidade de prestação de serviços no que diz respeito a identificação dos cidadãos (tratamento do bilhete de identidade), mas também a sua capacidade da gestão financeira dos recursos que consegue arrecadar localmente”, diz Vera Daves, para quem este acordo, resultado das conversações mantidas em Washington na semana passada durante os chamados Encontros de Primavera do BM e do Fundo Monetário Internacional (FMI), “é uma antecâmara para preparar o poder local para esse momento e mais autonomia, em que deverão ter capacidade interna para assegurar um conjunto de serviços”.

O FMI no seu ultimo relatório afirmou que há uma estagnação de financiamento e investimentos internacionais na África Austral, o que tem dificultado a reanimação das economias depois da pandemia e, no caso de Angola, com uma crise que vinha de 2014.

"Temos arranjado formas de ir mitigando esse gap (buraco) de financiamento”

A titular das Finanças reconhece essa falta de financiamento, mas garante que com o diálogo e os programas assinados com organizações multilaterais, com o BM, o Banco Africano de Desenvolvimento, a Agência Francesa de Desenvolvimento, com agências de riscos de cobertura de crédito, que dão cobertura ao risco país e permitem às instituições financeiras emprestar dinheiro a Angola a um melhor preço, como o AgriBank, dos Estados Unidos por exemplo, e os bancos comerciais, “temos arranjado formas de ir mitigando esse gap (buraco) de financiamento”.

Vera Daves acrescenta que “temos feito o nosso trabalho de casa no que diz respeito à melhoria do ambiente de negócios, obviamente não somos detentores de todo o conhecimento, sempre que possível pedimos assistência técnica de instituições com crredencial na matéria para tornar o ambiente mais amigável para atair investimentos”.

Os sectores de energia e água são alguns que estão em equação neste momento.

Ainda em torno de mais investimentos e financiamentos, a ministra das Finanças diz que o seu Governo está a avaliar as condições de mercado para uma possível emissão de mil milhões de dólares em titulos de tesouro, mas ainda sem data.

Ir ao mercado... com calma

“O ambiente ainda é de muitas dúvidas e algumas preocupações, como conflitos geopolíticos, combate à inflação... e isso não ajuda o pricing de obrigações de economias emergentes, poque sempre que há um contexto de maior preocupação e menos liquidez, normalmente, as obrigações de paises do grupo onde Angola se inclui são negociadas a preços muito altos”, explica Daves.

Ela lembra, que “Angola está a fazer o caminho de sair de um cenário em que tinha um rácio de dívida pública sobre o PIB de 130%, em 2020, para outro em que tem um rácio em torno de 66%”, mas “não queremos voltar lá para trás e para isso temos de ser bastante cauteolosos , em todas as decisões que formos tomar e isto inclui a decisão de ir ao mercado”.

Neste sentido, a ministra aponta que “uma avenida que procuraremos explorar é fazer uma emissão sustentável ... sejam verdes, azuis”, ou outras.

Vera Daves reitera o empenho de “fazer o PIB (Produto Interno Bruto) crescer ainda mais pela via da diversificação económica” e com mais energia no alargamento da base tributária, ela acredita que “continuaremos a estar serenos quanto ao endividamento”.

PIB tem de crescer

Ao apontar para avanços mesmo em momentos de crise internacional, a governante diz que a dívida pública está em torno dos 70 mil milhões de dólares, cerca de 63 mil milhões de euros, dividida em 60% a credores externos, e 40% a credores internos, o que representa, de acordo com os dados apresentados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) na semana passada, 63,3%, um valor bastante abaixo dos cerca de 130% registados em 2020.

A decisão da Organização dos Produtores e Exportadores de Peteróleo de reduzir a produção de petróleo não deve afectar Angola, que sempre produz abaixo da quota, diz Daves quem considera que os os objectivos sociais até 2030, sim, “o desafio é grande mas não só para Angola, como para todos os países africanos”.

Para ela, o desafio é encontrar “formas de ser catalizadores de saltos”, ou seja mecanismos de libertar espaço fiscal para que “recusos sejam disponibilizados, para saúde, educação, infraestruturas”.

A suspensão dos subsídios aos combustíveis é outro desafio que a ministra reconhece que vai ter impacto social, mas o seu Governo está a negociar com o BM formas de minmizar esse impacto nos cidadãos.