O candidato presidencial em Moçambique Venâncio Mondlane diz que vai dialogar com o Presidente da República, mas que irá submeter a sua agenda porque não quer ir ao “encontro no vazio”.
Ao falar na sua página no Facebook, após Filipe Nyusi ter reiterado o convite feito na terça-feira, 19, aos quatro candidatos presidenciais para um encontro visando solucionar a crise pós-eleitoral, Mondlane afirma que “aceita sem reservas esse diálogo, mas como qualquer encontro institucional tem de ter uma agenda”.
Tal agenda, disse Mondlane, será submetida ao Gabinete de Nyusi “amanhã, sexta-feira, nas primeiras horas”, e tem a contribuição de milhares de moçambicanos.
De acordo com a sua intervenção, ele elaborou uma agenda com 20 pontos, que acredita representarem anseios do povo, a partir de mais de 40 mil propostas.
O político, que reivindica vitória nas eleições presidenciais e convocou manifestações em todo o país, acrescenta que a referida agenda será posteriormente divulgada “para perceber o sentimento do povo” e promover a transparência.
Mondlane conclui que o encontro deve ser aberto a jornalistas e representantes da sociedade civil porque quer "evitar aqueles diálogos que iam a 100 rondas e o povo não sabia”.
O convite do Presidente da República, feito durante uma mensagem à nação na terça-feira, foi reiterado ontem à sua chegada a Maputo depois da cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Harare, Zimbabwe.
"Se não aparecerem é porque não querem fazer parte da solução", afirmou Filipe Nyusi aos jornalistas.
Renamo diz não ter sido convidado
Antes, o porta-voz da Renamo, Marcial Macome, disse que o partido não recebeu qualquer convite formal do Chefe de Estado, não sabia qual é a agenda desse encontro e que o partido só participará numa eventual reunião depois de o Conselho Constitucional decidir pela anulação das eleições e "pensar-se num modelo de Governo de gestão do país’’.
Os protestos irromperam por Moçambique depois das comissões eleitorais provinciais começaram a dar resultados das eleições que apontavam para uma vitória esmagadora do candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), afirmou na altura que as atas das assembleias de voto lhe davam a vitória por 53 por cento.
Protestos, mortes, prisões e processos-crimes
Depois da Comissão Nacional de Eleições ter confirmado a vitória de Daniel Chapo e também da Frelimo nas legislativas e nas eleições para governadores provinciais, Venâncio Mondlane convocou protestos em todo o país, ao mesmo tempo que recorreu ao Conselho Constitucional, alegando ter ganho as eleições.
Confrontos entre manifestantes e a polícia resultaram em 19 mortos, segundo o Presidente da República e mais de 50, de acordo com a oposição, e mais de 800 feridos.
Mais de 500 pessoas foram detidas e 202 já foram alvo de processos criminais por parte da Procuradoria-Geral da República que, também, pediu uma indemnização de cerca de 32 milhões de meticais (cerca de 500 mil dólares) a Venâncio Mondlane e Albino Forquilha, presidente do Podemos, por alegados danos patrimoniais.