Venâncio Mondlane apela à “paralisação” do país

  • AFP

Um cartaz eleitoral com o rosto do líder da oposição moçambicana, Venancio Mondlane, é visto numa parede em Maputo, a 14 de janeiro de 2025.

O líder da oposição moçambicana, Venâncio Mondlane, afirmou nesta terça-feira, 14, que os seus apoiantes vão “paralisar” o país para se oporem aos resultados das eleições de outubro, consideradas “roubadas”, na véspera da tomada de posse do Presidente eleito.

Daniel Chapo, candidato do partido Felimo, que está no poder em Moçambique há meio século, foi eleito nas eleições presidenciais de 9 de outubro, de acordo com os resultados oficiais, e deverá tomar posse na quarta-feira. Com 48 anos, sucede a Filipe Nyusi.

“Se isso significa paralisar o país durante todo o mandato, paralisá-lo-emos durante todo o mandato. Vamos ver como é que eles pretendem governar. Quem é que eles pensam que vão governar se matam exatamente as mesmas pessoas?”, perguntou durante uma transmissão em direto no Facebook, um ritual amplamente seguido pelos seus apoiantes.

Venâncio Mondlane regressou na quinta-feira, 9, de um exílio de dois meses e meio, em local não revelado, por temer pela sua segurança na sequência do assassinato de dois dos seus familiares em outubro.

Na segunda-feira, ele convocou três dias de manifestações até quarta-feira, 15.

Veja Também Moçambique: Venâncio Mondlane convoca novos protestos

Desde outubro, a violência pós-eleitoral - que evoluiu para um protesto mais geral contra o poder e a disfunção do Estado neste país pobre e altamente desigual - fez cerca de 300 mortos, segundo a Plataforma Decide.

Venâncio Mondlane, 50 anos, ficou indignado com a violência das autoridades.

Tinha declarado a sua vontade de dialogar assim que chegou ao aeroporto de Maputo, mas os seus apoiantes foram atacados com “munições reais e gás lacrimogéneo”, sublinhou.

“Este Governo não é um Governo de paz, este regime não quer a paz”, acusou o opositor.

“E se eles não querem a paz, nós não vamos recuar. Se for necessário, manifestar-nos-emos todos os dias, 365 dias por ano”, avisou.

O porta-voz da ONU para os direitos humanos, Seif Magango, manifestou a sua preocupação nesta terça-feira, 14, com a situação em Moçambique.

“À medida que são anunciadas novas manifestações antes da tomada de posse presidencial a 15 de janeiro, é essencial que a liberdade de reunião pacífica seja respeitada e facilitada, e que as forças de segurança se abstenham de qualquer uso desnecessário ou desproporcionado da força”, advertiu Seif Magango.

A agitação pós-eleitoral está a ter um grave impacto na economia, perturbando o comércio com a vizinha África do Sul e afectando o abastecimento de petróleo, os transportes e a indústria.