União Europeia e Reino Unido lamentam violência pós-eleitoral em Moçambique e pedem medidas

  • VOA Português

Contigente policial em Maputo durante manifestação contra resultados das eleições autárquicas, Moçambique, 27 outubro 2023

Estes novos posicionamentos seguem-se às manifestações de sexta-feira em várias cidades

A União Europeia (UE) lamenta a morte de duas pessoas durante as manifestações de ontem em Moçambique e apela às autoridades a assegurarem o exercício do direito à liberdade das pessoas.

O bloco europeu também aponta relatos de irregularidades durante as eleições autárquicas de 11 de outubro, juntando-se assim ao Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Suíça e Noruega que já se tinham pronunciado.

Num comunicado publicado no seu site neste sábado, 28, a UE diz ter tomado "nota com preocupação dos relatos de irregularidades e confia que serão adequadamente tratadas para garantir um resultado pacífico e satisfatório do processo eleitoral, no pleno respeito pelo Estado de Direito e pelos princípios democráticos”.

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Por isso, o bloco europeu “lamenta a morte de duas pessoas durante as manifestações de 27 de Outubro” e apela “a todas as partes envolvidas para que atuem de forma pacífica “, enquanto pede “às autoridades para assegurar o exercício seguro do direito à liberdade de associação e expressão".

O comunicado sublinha que “a União Europeia está a acompanhar de perto o rescaldo das eleições autárquicas, que tiveram lugar em 11 de Outubro”, e nas quais “a sociedade moçambicana demonstrou empenho e participou amplamente no processo”.

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Este posicionamento da UE surge um dia depois de manifestações convocadas pela Renamo, na oposição, terem sido reprimidas pela política em Maputo, Nampula, Nacala Porto e Quelimane, e nas quais pelo menos nove pessoas ficaram feridas e cerca de 70 foram detidas, segundo a polícia.

O porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique confirmou os nove feridos e que um total de 70 pessoas foram detidas, sendo 60 em Nampula, quatro em Nacala Porto, quatro em Maputo e duas em Quelimane.

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"Os indiciados foram devidamente processados e as respetivas peças de expediente remetidas ao Ministério Público para os posteriores trâmites legais que culminarão com a responsabilização criminal dos respetivos autores morais, que, das provas dos fatos no terreno e segundo os relatos dos detidos, são os respetivos cabeças de lista da Renamo nas autarquias já mencionadas”, disse Orlando Modumane em conferência de imprensa em Maputo.

A Voz da América não conseguiu confirmar a morte das duas pessoas, nem junto das autoridades nem de fonte independente.

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Também ontem, Reino Unido emitiu um comunicado a lamentar a onda de violência pós-votação e preocupação com a confirmação de resultados preliminarmente contestados.

“Lamentamos profundamente os atos de violência que ocorreram desde então e continuamos a colaborar com todas as partes e com as autoridades para apelar a uma resposta calma e ponderada”, lê-se na nota em que o Alto Comassariado Britânico em Maputo “apresenta as suas sinceras condolências às famílias enlutadas e deseja uma rápida recuperação aos feridos”.

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A representação diplomática afirma, igualmente, ter tomado “nota das alegações de que o processo eleitoral foi caraterizado por graves irregularidades” e diz ser “preocupante o fato de, apesar de existirem evidências que conduziram a processos judiciais em curso, os resultados finais terem sido confirmados na sua totalidade pelas autoridades eleitorais”.

A nota enfatiza que o Governo britânico reconhece a independência das autoridades judiciais moçambicanas na resolução do contencioso eleitoral, defendendo o estado de direito e o compromisso de Moçambique com eleições credíveis e pacíficas.

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“O Reino Unido exorta todas as partes e autoridades a colaborarem para prevenir a violência relacionada com as eleições e a continuarem a construir a paz de Moçambique, duramente conquistada, com base no diálogo, compreensão e negociação”, conclui o comunicado.

EUA e outros países também preocupados

Antes, a Embaixada dos Estados Unidos e as representações diplomáticas do Canadá, Noruega e Suiça deram a voz a relatos “credíveis” de irregularidades e pediram que o quadro jurídico dê resposta aos processos entretanto apresentados.

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Na quarta-feira, 25, a Comissão Nacional de Eleições confirmou os resultados intermédios que deram a vitória à Frelimo em 64 das 65 autarquias do pais, com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) a manter a governação na Beira.

A Renamo, o maior partido da oposição a nível central, perdeu os sete municípios que tinham em seu poder.

Tanto a Renamo como o MDM submeteram vários recursos aos tribunais distritais e há processos enviados ao Conselho Constitucional que ainda não foram julgados.

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A Frelimo congratulou-se com a vitória e disse que respeitará as decisões judiciais.

As plataformas de observação eleitoral Mais Integridade e Sala da Paz disseram que as eleições não foram nem justas nem transparentes e denunciaram muitas irregularidades.

A Ordem dos Advogados também pronunciou-se na sexta-feira, 27, em nota na qual fala em “descrédito” das eleições que é “sustentado pelo número, por demais elevado, de irregularidades apontadas ao processo eleitoral pelos Tribunais Distritais, que passam uma mensagem de que o crime e a manipulação compensam em Moçambique”.

A organização pediu ao Presidente da República que “faça valer os seus poderes constitucionais, demonstrando, ainda e inequivocamente, que é um elemento agregador para os moçambicanos, nestes momentos cruciais e difíceis que se vivem”.