UNITA aplaude pedido de perdão do Presidente angolano, mas diz que devia ser mais abrangente

Álvaro Chikwamanga, secretário geral da UNITA

Secretário-geral diz que a UNITA pediu perdão pelas mortes causadas durante a guerra e deputado do MPLA destaca coragem de João Lourenço.

O maior partido na oposição em Angola considera que foi bom o Presidente João Lourenço ter quebrado o gelo ao pedir perdão às vítimas do 27 de Maio, contudo a UNITA pede uma maior abrangência no que toca aos acontecimentos negativos porque há outros factos que merecem a palavra do Chefe de Estado.

O MPLA diz que o Presidente foi corajoso.

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Unita diz que já pediu desculpas – 2:03

Lourenço quebrou o tabu e pela primeira vez na história do país um Chefe de Estado pediu desculpas e perdão pela chacina e os excessos praticados principalmente em 1977 e, ontem, ele deixou o repto à UNITA a fazer o mesmo pelos actos praticados.

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O maior partido na oposição reage aplaudindo o gesto, mas lembra que a UNITA já pediu desculpas através do anterior presidente, Isaías Samakuva, só que os holofotes não estiveram virados para tal.

"Foi bom o Presidente João Lourenço ter tido coragem para abordar o assunto, fê-lo tarde sim, mas vale pela coragem, e dizer que a UNITA já fez um pedido no tempo em que Isaías Samakuva assumiu a liderança da direcção, pediu desculpas pelos acontecimentos do período da guerra que tinha deixado muitas famílias desoladas”, lembra o secretário-geral Álvaro Chikwamanga, quem destaca que “o único problema é que como a UNITA não domina os órgãos de comunicação social não se fez a mediatização que se está a fazer agora".

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Aquele responsável afirma, no entanto, que Lourenço esqueceu-se de mencionar outros acontecimentos tão importantes como o do 27 de Maio.

“O Presidente disse que Chitunda e Salupeto Pena foram mortos em combate, não é verdade, eles eram negociadores da UNITA e foram assassinados e não com arma na mão, que fique claro isso, por outra, o Presidente João Lourenço não se referiu por exemplo à sexta-feira sangrenta, porquê? Quantos simpatizantes da UNITA não foram assassinados pelo simples facto de terem votado na UNITA? pergunta Chikwamanga.

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Para o secretário-geral da UNITA, “o discurso do Presidente podia ser mais aberto e abrangente e estar sempre na posição de Chefe de Estado e não na perspectiva individual de limpar a sua imagem"

Por seu lado, o deputado do MPLA João Pinto considera que o discurso do Presidente João Lourenço “foi um acto de bastante elevação que todos temos que reconhecer, um autêntico komba nacional"

"Ao lançar o repto à UNITA não o faz apenas em nome do Estado, é também pelo MPLA quando o Presidente diz que assume, fá-lo na plenitude da história, não que ele tenha sido autor, o território nacional nas zonas controladas pelo partido-Estado, tinha um Presidente Agostinho Neto até 1979 e José Eduardo dos Santos, até 2017, o Presidente está a dizer que o que aconteceu foram situações históricas que nos envergonham a todos, foram actos de intolerância", afirma Pinto.

Na sua mensagem à nação na tarde de quarta-feira, 26, o Presidente afirmou que "o pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos".

Ao falar numa "nova página da nossa história", João Lourenço encorajou a todos os outros actores e participantes dos conflitos políticos, a fazerem-no igualmente.

"A história não se apaga, a verdade dos factos deve ser assumida para que as sociedades tomem as necessárias medidas preventivas, para evitar que tragédias idênticas se repitam", concluiu o Presidente angolano.