ONU alerta para agravamento da fome em Moçambique, Gaza, Sudão e Mali

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Fotografia de arquivo

Moçambique faz parte de uma lista de 22 países onde se destacam a Faixa de Gaza, o Sudão, o Sudão do Sul, o Haiti e o Mali.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM) - agências alimentares da ONU - alertaram na quinta-feira, 31, para o facto de os níveis de fome poderem piorar nos próximos sete meses em muitas partes do mundo, sendo Gaza, Sudão, Sudão do Sul, Mali e Haiti os mais preocupantes.

Moçambique, Líbano, Myanmar, Nigéria, Síria e Iémen são focos de grande preocupação, com um grande número de pessoas a enfrentar uma insegurança alimentar aguda e crítica, associada ao agravamento dos factores que deverão intensificar ainda mais as condições de risco de vida nos próximos meses.

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ONU alerta para agravamento da fome em Moçambique, Gaza, Sudão e Mali

Os conflitos e a violência armada são responsáveis pela maior parte da insegurança alimentar aguda em todas as regiões analisadas no relatório ´Focos de Fome - Alertas precoces da FAO-PAM sobre insegurança alimentar aguda´, que abrange o período de novembro de 2024 a maio de 2025.

“A situação nos cinco focos de fome mais preocupantes é catastrófica. As pessoas estão a sofrer uma falta extrema de alimentos e enfrentam uma fome duradoura sem precedentes, alimentada pela escalada de conflitos, crises climáticas e choques económicos", afirmou QU Dongyu, Diretor-Geral da FAO.

Dongyu frisa que "precisamos urgentemente" de um cessar-fogo e ação humanitária. "Mas isto, por si só, não é suficiente; precisamos de estabilidade e segurança alimentar a longo prazo", sublinha.

O clima extremo é um fator importante, considerando que os efeitos do La Niña vão impactar o clima até março de 2025. A desigualdade económica e os elevados níveis de dívida em muitos países em desenvolvimento estão a dificultar a capacidade de resposta dos governos, de acordo com o relatório conjunto.

“Na ausência de esforços humanitários imediatos e de uma ação internacional concertada para remediar as graves dificuldades de acesso e para atenuar os conflitos e a insegurança, a fome e a perda de vidas humanas são susceptíveis de se agravar” nestas regiões, alerta o relatório.

Os autores sublinham que o relatório se centra “nas situações mais graves”, pelo que não representa “todos os países/territórios que registam níveis elevados de insegurança alimentar aguda”. É o caso de Angola. Relativamente ao país o relatório demonstra que as províncias do Sul e do Leste "afectadas por uma seca induzida pelo fenómeno El Niño, as baixas reservas alimentares e as reduzidas oportunidades de trabalho agrícola diminuíram significativamente o poder de compra num contexto de colheitas excecionalmente fracas" e elevada inflação.

O ano de 2024 é o segundo ano consecutivo de redução do financiamento da ajuda humanitária, e doze planos no sector da segurança alimentar enfrentaram quebras de financiamento superiores a 75% em países como a Etiópia, o Iémen, a Síria e a Birmânia.

O pior ainda está para vir

Os níveis de insegurança alimentar são medidos numa escala de 1 a 5, correspondendo o último a uma situação de “catástrofe”. Na Faixa de Gaza, o recente recrudescimento das hostilidades levou a receios de que o cenário “catastrófico” da fome se possa tornar realidade, de acordo com o relatório.

Cerca de 41% da população, ou seja, 876 000 pessoas, enfrentarão níveis de fome de “emergência”, nível 4, de novembro até ao final de abril, enquanto quase 16%, ou seja, 345 000 pessoas, sofrerão níveis “catastróficos”, de acordo com o relatório.

Em meados de outubro, 1,9 milhões de pessoas, ou seja, 91% da população de Gaza, estavam deslocadas.

No Sudão, centenas de milhares de pessoas deslocadas pelo conflito continuarão a enfrentar a fome, segundo a mesma fonte. No Sudão do Sul, o número de pessoas que enfrentam a fome e a morte já deverá quase duplicar nos quatro meses entre abril e julho de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023.

Mas estes números poderão agravar-se a partir de maio de 2025, com o período que se segue e precede duas colheitas.

De acordo com o relatório, mais de um milhão de pessoas foram afectadas por graves inundações este mês no Sudão do Sul, um país cronicamente instável, assolado pela violência e pela estagnação económica.

Do mesmo modo, a violência armada no Haiti, combinada com uma crise económica persistente e furacões, é suscetível de agravar os níveis de fome já críticos.

A escalada do conflito no Mali, onde a ONU retirou a sua missão de manutenção da paz em 2023, é suscetível de agravar os níveis já críticos, com grupos armados a imporem bloqueios nas estradas e a impedirem a entrega de ajuda humanitária.

Os efeitos diretos e indirectos dos conflitos na insegurança alimentar são consideráveis, segundo o relatório, e vão muito além da destruição do gado e das colheitas.

Os conflitos obrigam as pessoas a fugir das suas casas, “perturbando os meios de subsistência e os rendimentos, limitando o acesso aos mercados e conduzindo a flutuações de preços e a uma produção e consumo irregulares de alimentos”.

Em algumas regiões preocupantes, as condições meteorológicas extremas causadas pelo possível reaparecimento, este inverno, do La Niña, um fenómeno climático natural que pode desencadear chuvas intensas ou agravar as secas e as vagas de calor, podem exacerbar as crises alimentares, segundo o relatório.