Completa-se hoje um ano desde que o grupo terrorista Boko Haram raptou 276 raparigas dos seus dormitórios escolares no nordeste da Nigéria. O conhecido sequestro de Chibok foi um movimento ousado do grupo radical, mas não se tratou de uma acção isolada. Foi um dos primeiros ataques a revelar a violência do Boko Haram, que já matou milhares de pessoas e forçou outras milhares a abandonarem as suas casas.
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Duzentas e setente e seis raparigas em idade escolar, 365 dias desde a noite em que os militantes do Boko Haram invadiram a sua escola em Chibok.
Activistas de direitos humanos que investigaram o caso dizem que os atacantes sequestraram as raparigas simplesmente porque foi o que conseguiram. Foi um improviso. Uma das raparigas que escapou conta:“Eles nos levaram para fora e queimaram a escola inteira. E então eles nos levaram para os seus veículos e nos forçaram a viajar com eles”.
Pelo menos 56 raparigas conseguiram escapar. Outras 219 estão desaparecidas, e tanto as suas famílias como cidades foram invadidas por raiva e pesar. Todos se sentiram abandonados, como relata a mãe de uma das sequestradas: “Na segunda-feira a seguir ao sequestro pensamos que os soldados seriam enviados para procurar as nossas filhas. Se os soldados tivessem sido enviados, não há dúvida de que as nossas filhas teriam regressado, mas isso não aconteceu”.
As raparigas de Chibok chamaram a atenção do mundo para o nordeste da Nigéria: cinco anos de assassinatos e mortes causados pelos terroristas que até então não tinham mereido destaque na imprensa mundial
Os nigerianos começaram a protestar. A revolta tornou-se global, com a criação de uma campanha com hashtags no Twitter. Nasceu assim o movimento “Bring Back Our Girls”, ou “Tragam de Volta as Nossas Raparigas”.
“O que estamos a dizer às nossas irmãs é que nós estamos aqui por elas. Nós vamos estar aqui até que as nossas filhas regressem. Nós ficaremos aqui até que as nossas filhas sejam encontradas”, disse um dos integrantes do grupo.
O movimento realiza comícios todos os dias, mas as raparigas ainda não foram resgatadas.
A esperança era elevada, mas a frustração chegou em Outubro quando o Governo anunciou que estava a negociar um cessar-fogo, como conta essa residente do Chibok:
“Nós não nos importamos. Não demos a mínima importância. Tudo o que nós queremos é que nossas filhas sejam trazidas de volta. Ponto final. Isso é tudo que o povo do Chibok está a dizer. Já chega. Nós já tivemos o suficiente. Estamos cansados dos absurdos desse país”.
O Presidente eleito da Nigéria Muhammadu Buhari diz que durante o seu Governo as coisas serão diferentes, mas não oferece falsas esperanças. Ele diz que não sabe onde estão as raparigas, ou se elas podem ser resgatadas. O novo Presidente afirma, no entanto, que o seu Governo fará tudo o que for possível.
As raparigas de Chibok não são o primeiro nem o último grupo de mulheres sequestradas pelo Boko Haram. Segundo a Amnistia Internacional, cerca de duas mil mulheres e raparigas foram raptadas pelo grupo terrorista desde 2011.
Elas são forçadas a casar com militantes do grupo ou a prover serviços como limpeza das suas casas. Algumas são forçadas a treinar e a participar em ataques do grupo.
Alguns activistas acreditam que o Boko Haram mantém as raparigas de Chibok separadas das outras sequestradas. É que elas poderão ser valiosas para o grupo como moeda de troca ou como escudos humanos em caso de ataques aéreos.
O Boko Haram uniu-se recentemente ao Estado Islâmico, outro grupo terrorista que também sequestra mulheres e crianças.
Após o sequestro de Chibok, a 14 de Abril de 2014, a Nigéria e o resto do mundo declararam guerra total ao Boko Haram, mas os combates, de facto, apenas começaram em Fevereiro, com a intervenção do Chade, Benin e Camarões, países vizinhos da Nigéria.
No terreno, os militares falam em avanços contra o Boko Haran e renasce a esperança de que acabe o martírio das meninas de Chibok.