A cidade de Nampula, na província moçambicana de mesmo nome, acordou com tiroteios, horas depois dos resultados definitivos das eleições autárquicas de 11 de outubro, que deram vitória esmagadora ao partido Frelimo, terem sido anunciados.
Nove pessoas deram entrada no Hospital Central de Nampula, entre elas uma criança de 13 anos, e um polícia teve o braço amputado devido a falhas no manuseamento da arma que estava a usar.
Na manhã desta sexta-feira, 27, os serviços de Nampula começaram a encerrar, enquanto continuavam os tiroteios, sobretudo nos bairros de Namicopo, Namutequeliua, Muahivire, e nas áreas do centro-urbanas.
A população está a recolher às suas residências e a Polícia da República de Moçambique (PRM) colocou ao serviço as suas unidades para controlar a fúria dos manifestantes que colocam barricadas nas principais vias da cidade.
a polícia não estava a disparar para cima, estava a disparar para matar as pessoas"Pedro Saide
Há registo de pessoas que estão a ser detidas. A PRM tem lançado gás lacrimogéneo e balas para dispersar os manifestantes.
Situação semelhante está acontecer no município da cidade de Nacala, onde as manifestações começaram na noite de ontem.
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Hospital confirma feridos
O médico cirurgião do Hospital Central de Nampula, Sulaimana Isidoro, disse a jornalistas que dos pacientes que deram entrada, três vão precisar de tratamento cirúrgico devido ao seu estado grave.
"No meio disso temos uma criança que tem quatro feridas por arma de fogo, este é o aspecto mais grave. Uma das feridas atravessa a cavidade abdominal. Temos outros com outras lesões desde amputações de membros superiores", afirmou Sulaimana Isidoro que acrescentou estarem em curso cirurgias de alguns pacientes baleados nos tumultos.
Questionado sobre a entrada de um membro da PRM baleado, Sulaimana disse que "se é membro da PRM ou não, a única coisa que posso dizer é que tenho nove doentes, não consigo identificar se este é ou não membro da PRM, o que preocupa é quem entrou e como entrou".
Veja Também Polícia lança gás lacrimogéneo e dispersa marcha da Renamo na cidade de MaputoAlgumas famílias das vítimas pedem responsabilidade, porque segundo eles os seus parentes não estavam na manifestação, mas foram à rua para realizar seus trabalhos normais.
O menor de 12 anos baleado, por exemplo, encontrava-se a vender alguns produtos na via pública.
Pedro Saide, tio da vítima quer justiça porque "a polícia não estava a disparar para cima, estava a disparar para matar as pessoas".
A polícia também não confirma o ferimento ou morte de um dos seus membros, mas algumas fontes do Hospital Central de Nampula, disseram ter entrado um agente com amputação no braço que supostamente resulta de falhas no manuseamento da sua arma.
Até ao momento, diferentes forças policiais estão em vários pontos da cidade de Nampula e Nacala Porto, onde há manifestações e a polícia segundo o seu porta-voz Zacarias Nacute, diz que vai continuar a agir caso haja qualquer situação que coloque em causa a ordem e tranquilidade pública.
Por conta desta manifestação, vários cidadãos nas cidades de Nampula e Nacala Porto foram detidos acusados de criar agitação.
Entretanto aquele porta-voz assegurou que a ordem pública já está a ser restabelecida, mas apela ao partido para orientar os seus membros a não pautarem por manifestação violenta: "Do mesmo modo que solicitaram os seus simpatizantes a causar desordem apelamos a orientarem para não fazerem actos de vandalismo porque qualquer situação a polícia terá que entrar para restabelecer a ordem".
Frelimo venceu em 64 dos 65 municípios
Com abstenções do Bispo anglicano Carlos Simão Matsinhe, presidente da própria Comissão Nacional de Eleições e do jornalista Salomão Moiane, o órgão anunciou na tarde de ontem que Frelimo venceu em 64 municípios, enquanto a Beira, em Sofala, continua sob governação do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
O Presidente da CNE disse que o processo de centralização nacional e apuramento geral dos resultados foi realizado com base nas actas e editais do apuramento autárquico intermédio e no mapa da centralização provincial.
Os mesmos editais que os partidos da oposição dizem ter sido forjados e que alguns Tribunais Judiciais, incluindo da Cidade de Maputo, provaram a sua fabricação por membros do partido Frelimo, com apoio dos órgãos eleitorais.