Um grande júri federal em Washington acusou nesta terça-feira, 1 o ex-Presidente dos EUA Donald Trump de tentar ilegalmente reverter a sua derrota nas eleições de 2020 para manter-se o poder, aumentando os seus problemas legais ,enquanto faz campanha para reconquistar a Casa Branca nas eleições de 2024.
As quatro acusações foram apresentadas pelo procurador especial do Departamento de Justiça, Jack Smith, depois que o grande júri ouviu meses de depoimentos de alguns dos aliados mais próximos de Trump e que recordaram como Trump tentou - e falhou - em reverter a sua derrota para o democrata Joe Biden, eleito Presidente em Novembro de 2020.
A acusação de 45 páginas alega que Trump, de 77 anos, se envolveu em uma conspiração para defraudar os Estados Unidos, ameaçar os direitos de terceiros e obstruir um processo oficial perante o Congresso - a contagem dos votos eleitorais que certificam a vitória de Biden -, obstrução de um processo oficial, a contagem dos votos do Colégio Eleitoral pelo Congresso a 6 de janeiro de 2021, quando 2.000 apoiantes de Trump invadiram o Capitólio dem um protesto violento.
Ésta é a primeira vez, nos 247 anos de história do país ,que um antigo Presidente é acusado de tentar ilegalmente manter-se no cargo por mais um mandato de quatro anos, em vez de entregar pacificamente, ainda que com relutância, o poder a um sucessor.
Trump deverá comparecer perante um juiz nesta quinta-feira, na sua primeira comparência em tribunal no âmbito deste processo.
Até hoje, o republicano alega falsamente que foi impedido de ser reeleito por fraude eleitoral e outras irregularidades eleitorais, mesmo depois de dezenas de juízes terem rejeitado as suas alegações nas semanas após as eleições de 2020.
"Apesar de ter perdido, o réu estava determinado a permanecer no poder. Portanto, por mais de dois meses após o dia da eleição em 3 de novembro de 2020, o Réu espalhou mentiras de que houve fraude que alterou o resultado na eleição e que ele realmente ganhou", lê-se na acusação.
"Essas afirmações eram falsas e o réu sabia que eram falsas", continua a acusação, dizendo ainda que Trump "repetiu-as e divulgou-as amplamente de qualquer forma - para fazer com que as suas alegações conscientemente falsas parecessem legítimas, criar uma intensa atmosfera nacional de desconfiança e raiva e corroer a fé pública na administração das eleições".
A acusação alega que cada uma das conspirações de Trump "visava uma função fundamental do Governo federal dos Estados Unidos: o processo nacional de recolha, contagem e certificação dos resultados das eleições presidenciais".
A procuradoria alega que Trump conspirou de várias formas com seis outras pessoas, nenhuma delas mencionada na acusação, para alterar o resultado nacional.
Quatro deles eram advogados que o aconselhavam, outro era um funcionário do Departamento de Justiça e um sexto era um consultor político que alegadamente "ajudou a implementar um plano para apresentar listas fraudulentas de eleitores presidenciais [favorecendo Trump] para obstruir o processo de certificação" que mostrava que Biden tinha ganho.
Acusaçōes avolumam-se
Esta é a segunda vez que Jack Smith acusa Trump, nos últimos dois meses.
Numa acusação anterior de 40 crimes, o procurador acusou Trump de reter ilegalmente 32 documentos de segurança nacional altamente confidenciais na sua propriedade à beira-mar em Mar-a-Lago, na Flórida, depois de ter deixado o cargo, em vez de os entregar aos Arquivos Nacionais, como lhe era exigido pela lei dos EUA.
O julgamento está marcado para Maio de 2024.
Além disso, um procurador do Estado de Nova Iorque acusou Trump de ter falsificado registos financeiros do seu grupo imobiliário, a Trump Organization, para ocultar um pagamento de 130 000 dólares a uma actriz de filmes pornográficos antes da sua bem sucedida campanha presidencial de 2016.
O objetivo era silenciar a alegação da atriz de que tinha tido um encontro de uma noite com Trump uma década antes.
O julgamento está marcado para Março próximo.
No Estado da Geórgia, uma procuradora sinalizou que também pode em breve acusar Trump de tentar anular ilegalmente o resultado das eleições de 2020 naquele estado.
No início de 2021, Trump foi gravado num telefonema a pedir aos funcionários eleitorais que "encontrassem" 11,780 votos, um a mais do que a margem de vitória de Biden, para que Trump pudesse reivindicar os 16 votos eleitorais do estado.
Donald Trump negou qualquer irregularidade nos vários casos, atacando frequentemente Smith e os procuradores em Nova Iorque e na Geórgia.
O antigo Presidente também atacou a acusação, alegando que era "nada mais do que o último capítulo corrupto na tentativa patética contínua da Família do Crime Biden e seu Departamento de Justiça armado" de interferir na eleição de 2024.
Ele afirmou que a acusação é uma reminiscência da "Alemanha nazista na década de 1930, a ex-União Soviética e outros regimes autoritários e ditatoriais".
No campo político, as sondagens nacionais mostram que Trump é o favorito entre os eleitores republicanos para a nomeação presidencial do partido para 2024.
Uma pesquisa do New York Times publicada nesta terça-feira, horas antes da última acusação, mostrou-o empatado com Biden, com 43% cada, num cenário em que os dois adversários de 2020 voltariam a encontrar-se e numa segunda eleição consecutiva.