Trovoada diz que seu país vive "situação de verdadeira urgência económica e financeira" devido às mudanças climáticas

  • VOA Português

Primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Emery Trovoada, discursa na 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, na sede da ONU, em Nova Iorque, a 20 de setembro de 2023. (Leonardo Munoz / AFP)

Ao discursar nas Nações Unidas, o PM são-tomense alertou que “os problemas de países pobres tendem a tornar-se também os problemas dos países ricos".

O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe disse que o seu país vive uma situação de verdadeira urgência económica e financeira a curto prazo devido principalmente às mudanças climáticas e pediu um novo olhar para os pequenos Estados insulares.

Ao dicursar na 78a. Assembleia Geral das Nações Unidas nesta quinta-feira, 21, em Nova Iorque, Patrice Trovoada afirmou que se deve apontar os responsáveis pelas alterações climáticas, condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, manifestou a sua preocupação com a onda de golpes de Estado em África e criticou um olhar diferenciado para os mortose refugiados a norte e a sul.

“O meu país, um pequeno Estado insular que goza de uma democracia efetiva há mais de 30 anos e que ainda está em desenvolvimento, é uma das principais vítimas das alterações climáticas, da degradação dos ecossistemas e da dependência económica", afirmou Trovoada, quem sublinhou que o arquipélago vive “uma situação de verdadeira urgência económica e financeira a curto prazo”.

O Chefe de Governo são-tomense alertou para o fato de problemas estruturais e assimetrias dificultarem a realização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, e apontou que “a falta de confiança nas instituições democráticas por parte das populações é cada vez maior”.

Há que indicar os responsáveis

Para Trovoada “perante os desafios persistentes e crescentes que permanecem, particularmente em termos de pobreza, fome, desigualdades e questões ambientais, para além dos nossos discursos, nós, os líderes das várias nações aqui representadas, devemos questionar-nos e reconhecer as nossas falhas em proteger o nosso planeta e garantir a prosperidade partilhada até 2030”.

Ele disse que “não devemos hesitar em apontar o dedo aos responsáveis pelas perturbações climáticas no seio do G20, ou aos órgãos de governação económica mundial que continuam a ignorar os nossos objetivos sociais e ambientais, nomeadamente, negando-nos o acesso a recursos financeiros em quantidades e condições razoáveis”.

Ele alertou ainda que “os problemas de países pobres tendem a tornar-se também os problemas dos países ricos".

O primeiro-ministro condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia porque "o país respeita o direito internacional e a Carta das Nações Unidas”.

Patrice Trovoada abordou, com preocupação, os golpes de Estado na África "cada vez mais mais frequentes, ao mesmo tempo que perduram conflitos de longa data, como os da Palestina e de Cuba, e os do Iémen, da Síria, do Sudão e da Líbia seguem o mesmo caminho”.

Mortos e refugiados não são iguais

O primeiro-ministro são-tomense lamentou que "os refugiados e os mortos não são iguais em direitos e em dignidade num mundo que se diz civilizado", porque parece que, atualmente, "só as pandemias mundiais são capazes de nos unir e de nos mobilizar”.

Por exemplo, ele disse que “tardamos em reagir para impormos a paz face ao conflito latente na região dos Grandes Lagos, enquanto a lista de mortos, de deslocados e de destruições de todo o tipo continua a agravar-se, e as missões de paz internacionais mostram os seus limites por falta de compromissos claros e efetivos a favor das populações que são as primeiras vítimas”.

Apesar do caso atual, o primeiro-ministro são-tomense disse acreditar que “existe esperança” através da reforma das Nações Unidas e das instituições de Bretton-Woods (FMI e Banco Mundial), visando um multilateralismo “reinventado e mais solidário".

"Os países ricos têm uma responsabilidade, mas a nossa também não pode ser excluída. Reafirmamos o firme compromisso da República Democrática de São Tomé e Príncipe de colaborar ativamente com os seus parceiros regionais e internacionais em todas as iniciativas que visem erradicar todos os atos desumanos, degradantes para os seres vivos e o ambiente, e prejudiciais aos valores humanistas e de liberdade”, afirmou Trovoada que acredita que a ONU "é o centro aglutinador das nossas causas e é a única entidade cujo papel é estruturar e sistematizar os nossos desafios comuns e liderar a harmonização do nosso mundo, respeitando as diferenças culturais, os modelos e sistemas de governo e as opções económicas”.

Ele concluiu reiterando o empenho do seu Governo em “erradicar todos os atos desumanos, degradantes para os seres vivos e o ambiente, e prejudiciais aos valores humanistas e de liberdade”.