"Troika" da SADC decide no dia 23 ajuda a Moçambique no combate à insurgência

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Metuge: Campo de deslocados do centro agrário de Napala. Distribuição de alimentos por PMA a deslocados da insurgência em Cabo Delgado.

Grupo Internacional de Crise recomenda Governo de Maputo a combinar resposta militar com um forte investimento nas comunidades e no diálogo com os insurgentes

O Presidente da África do Sul revelou que a cimeira da troika da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) reúne-se no dia 23 em Maputo para decidir sobre “a resposta regional apropriada” em apoio ao Governo de Mocambique na luta contra o terrorismo na provincia de Cabo Delgado.

Questionado no Parlamento, Cyril Ramaphosa disse que o seu Governo está a “trabalhar dentro dos sistemas da SADC para fazer face à desestabilização de Cabo Delgado e para estabelecer a estabilidade política em Moçambique”.

Entretanto, o Grupo Internacional de Crise, uma organização não internacional especializada em temas como resolução e prevenção de conflitos armados internacionais (ICG, na sigla em inglês), e com sede em Bruxelas, defendeu que o Governo de Maputo deve combinar a sua resposta militar com um forte investimento nas comunidades e no diálogo com os insurgentes.

Num relatório divulgado nesta sexta-feira, 11, o grupo destaca "o conjunto de factores locais que estimularam... os insurgentes à batalha", a fim de conter a violência.

Os jihadistas ligados ao Estado Islâmico têm vindo a aterrorizar a província de Cabo Delgado desde 2017, pilhando aldeias e cidades.

O conflito já custou mais de 2.800 vidas, metade das quais civis, e forçou mais de 700 mil a abandonarem as suas casas.

Os insurgentes conhecidos localmente como Al-Shabab lançaram um ataque à cidade de Palma em Março que sobrecarregou as Forças de Segurança e Defesa (FDS) e obrigou o gigante francês da energia Total a suspender os trabalhos do seu megaprojecto de explorou de gás natural em Cabo Delgado.

No ataque, dezenas de pessoas foram mortas e 67 mil foram deslocadas, no que foi considerado um dos maiores ataques de radicais islâmicos na África Austral e que suscitou preocupação internacional.

O ICG insta Maputo no seu relatório a "usar a força sabiamente", aceitando ofertas externas de assistência militar, mas concentrando-se em conter a expansão dos insurgentes e proteger os civis deslocados.

"É necessário que haja um nível adequado de apoio militar para pressionar este grupo... a considerar a rendição, mas também para lhes oferecer um caminho de saída", disse à AFP o principal autor do relatório, o especialista em África, Dino Mahtani.

Para o conseguir, segundo Mahtani, o Estado deve utilizar o dinheiro dos doadores para financiar iniciativas de desenvolvimento que possam "acalmar as tensões locais" e proporcionar meios de subsistência alternativos àqueles que estão a considerar integrar-se na insurreição, bem como àqueles que já se juntaram às suas fileiras.

Mahtani acrescentou que a ajuda abriria a possibilidade para um diálogo urgente com os jihadistas e prepararia o caminho para discussões sobre uma potencial amnistia.

Até agora, o Governo de Moçambique tem concentrado a maior parte da sua atenção numa resposta militar.

O ICG insta o Presidente Filipe Nyusi a aceitar uma intervenção externa "medida" para apoiar e treinar tropas locais, evitando um "destacamento pesado" de militares estrangeiros.

"Isso poderia acabar por ser apenas um pára-raios para os jihadistas internacionais virem combater uma intervenção internacional", advertiu Mahtani.

Refira-se que Nyusi tem recusado uma força estrangeira, até agora, tendo optado por negociar apoios com países e grupos privados.

Na sua intervenção no Parlamento sul-africano, o Presidente Cyril Ramaphosa lembrou que uma missão de peritos da SADC propos um apoio às Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, sem dar detalhes.

A proposta, conhecida em Abril, incluiu o envio de uma força de três mil homens e equipamentos pesados.