Total confirma retirada de pessoal do norte de Moçambique e Governo diz que é apenas suspensão

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Gigante francesa diz esperar que o Governo e parceiros regionais e internacionais restabeleçam a segurança e estabilidade de forma sustentada

A companhia Total confirmou nesta segunda-feira, 26, ter retirado todo o seu pessoal do norte da província de Cabo Delgado que trabalha no megaprojecto de gás natural, no valor de 20 mil milhões de dólares, por motivos de força maior.

O Governo já reagiu dizendo que a empresa não abandonou o projecto, mas apenas suspendeu os trabalhos por agora

“Considerando a evolução da situação da segurança no norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, a Total confirma a retirada de todo o pessoal do projecto Mozambique LNG, do local de Afungi”, diz a gigante de energia em comunicado no qual considera que “esta situação leva a Total, como operadora do projecto Moçambique LNG, a declarar força maior”.

A companhia reitera a sua “a sua solidariedade para com o Governo e povo de Moçambique e deseja que as acções desenvolvidas pelo Governo de Moçambique e seus parceiros regionais e internacionais permitam o restabelecimento da segurança e estabilidade na província de Cabo Delgado de forma sustentada”.

Governo diz que projecto não acabou

Entretanto, logo após o comunicado da Total, o presidente do Instituto Nacional de Petróleos de Moçambique (INP) convocou uma conferência de imprensa para assegurar que para o Governo "está claro que a Total mantém as suas obrigações, no âmbito do contrato de pesquisa e produção de petróleo".

Carlos Zacarias classificou de "prudente" a atitude da gigante francesa que visa "preservar e salvaguardar a segurança" dos seus trabalhadores na região ante a situação de insegurança.

Quanto ao uso da cláusula "força maior" invocada pela Total, o presidente do INP explica que esse recuso vai permitir-lhe mitigar os custos incorridos pelo consórcio do projecto de gás, bem como as empresas subcontratadas.

"O primeiro efeito é que protege os dois lados, na medida em que irá mitigar mais custos que, eventualmente, possam ser incorridos por serviços que não podem ser providenciados", referiu Zacarias, quem garantiu que "logo que as condições de segurança estiverem criadas e melhoradas, tenho a certeza que as actividades irão sendo retomadas.

Ele ainda acrescentou haver fundos para continuar com o projecto, depois de há pouco tempo ter sido concluído o fecho financeiro do investimento, o maior em África.

Nas duas últimas semanas, como a VOA noticiou, a Total suspendeu contratos com várias empresas devido à paralisação do investimento, na sequência dos ataques de insurgentes que se arrastam há três anos e meio.

Mais de duas mil pessoas foram mortas e mais de 600 mil estão deslocadas, enquanto continuam os combates entre as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, com a ajudar de grupos militares privados estrangeiros, e insurgentes ligados ao Estado Islâmico.