"Timor conquistou a sua independência, mas ainda não sabe ser independente", diz Gina Araújo Amaral, filha do independentista António Maria Araújo, que lutou pela libertação de Timor do domínio indonésio, ao lado da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente).
A Indonésia invadiu Timor-Leste a 7 de Dezembro de 1975. Foram décadas de "perseguições", conta Gina, parafraseando o seu pai.
Num discurso que António Maria Araújo, enfermeiro no hospital civil de Dili, fez em Genebra em 1989, ele descreve "torturas, prisões, horrores", a que esteve sujeito, bem como outros que como ele lutavam pela independência, sob o regime indonésio, governado por Suharto.
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"Os horrores de que fui testemunha são indescritíveis. Os métodos de tortura física e moral eram os mais variados e os funcionários rivalizavam em zelo entre si", refere António Maria Araújo no seu discurso em Genebra, na Assembleia da ONU, haviam 14 anos de ocupação indonésia em Timor, apelando à comunidade internacional que interviesse.
Em 1998, com a queda de Suharto, fruto de uma crise económica profunda e sem precedentes, B.J.Habibie assumiu a presidência da Indonésia, tendo acabado por concordar com a realização de um referendo onde a população votaria "sim" se quisesse a integração na Indonésia com autonomia, e "não" se preferisse a independência.
A 30 de Agosto de 1999 foi realizado o referendo no qual o "sim" ganhou com 78,5 por cento de votos, escolhendo a independência formal. Mas não foi até 2002 que Timor conseguiu de facto ter a sua independência total.
Gina olha agora para um Timor, que lutou pela sua independência "com muitas lágrimas e suor", que tem que seguir em frente, sem rancores, cujas relações com a Indonésia são bastante amigáveis, e que tem que aprender a conquistar também o desenvolvimento, porque a "liberdade não é como comprar um quilo de açúcar (...) e está feito".