Terminal de minérios do Lobito pode não ter capacidade para todas as exportações da RDC e da  Zâmbia

Porto do Lobito

Após a transferência da concessão dos serviços ferroviários e da logística de suporte do Corredor do Lobito, na província angolana de Benguela, emergem receios quanto à capacidade do terminal de minérios face ao potencial da República Democrática do Congo (RDC) e da Zâmbia, países que já terão manifestado preocupações nesse sentido, soube a VOA.

A solução, debatida pela Associação Industrial Angolana e entidades estrangeiras, pode passar por um parque mineraleiro na Baía Farta, também em Benguela, para depois ser erguido um ramal ferroviário para ligar o empreendimento à linha do Caminho-de-ferro.

Instalado no Porto Comercial do Lobito em 2014, fruto de um investimento de 522 milhões de dólares, o terminal tem capacidade para absorver 3 milhões de toneladas anuais, quando os concessionários tencionam ultrapassar as vinte milhões de toneladas de mercadoria pesada nos 30 anos de exploração.

Ainda que nestas previsões os suíços da Trafigura, os belgas da Vecturis e os portugueses da Mota Engil incluam bens agrícolas, industriais e pesqueiros, o presidente da AIA, José Severino, não tem dúvidas.

“O terminal mineraleiro já não pode ser no Lobito, temos de procurar uma planície, então a solução é irmos para o Sul da Baía Farta, onde sempre defendemos que deveria estar a refinaria” disse affirmando que “lá não há colisões, não há choques ambientais, não há densidade demográfica”.

“Aí teríamos um grande parque mineraleiro para responder às preocupações do senhor ministro dos Transportes da Zâmbia e do embaixador congolês”, acesecentou afirmando ainda que “eles querem investir nisso, a vantagem é que não seria investimento único nosso, mas querem saber do espaço para o seu potencial”.

Desta forma, segundo o industrial, mais facilmente se ligaria a Baía Farta ao ramal do CFB.

Jose Severino lembra que as projecções apontam igualmente para a produção de alumínio no mesmo município, com base numa barragem na província do Kwanza Sul.

“E essa barragem ia fornecer energia para o Sumbe, Porto Amboim, Lobito e Baía Farta, aqui para fazermos o alumínio. Infelizmente, naquela altura, problemas de interesses subjetivos nacionais … o investidor desistiu, também queria fazer uma base de fertilizantes. Portanto, é aí que temos de fazer o terminal, que é tóxico, e ligar ao CFB”,disse.

O acto de transferência da concessão dos serviços ferroviários, na última semana, não forneceu respostas.

Por ora, fica a garantia de que Angola, Zâmbia e a República Democrática do Congo tudo farão para colocar atempadamente a matéria-prima nos mercados mundiais, conforme o Chefe de Estado anfitrião, João Lourenço

“A nós africanos cabe definir e concretizar a forma como queremos e podemos participar no desenvolvimento económico mundial. Para isso, devemos optimizar os nossos recursos, explorando-os, transformando-os e fazendo chegar atempadamente aos mercados”, ressaltou o Presidente angolano.

A Zâmbia e a RDC, os chamados países encravados, vão exportar o seu minério pelo Porto do Lobito, preferencialmente para a Europa e Américas, passando pela linha do CFB, que compreende as províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico, numa extensão de 1330 quilómetros.

A concessão, que pode chegar a 50 anos se o consórcio reabilitar o ramal de ligação à Zâmbia, prevê correções na linha-férrea, com reforço de pontes, aquisição de vagões e locomotivas e construção de oficina.

Está alinhavado um financiamento dos Estados Unidos da América, no valor de 250 milhões de dólares, através de uma instituição bancária da África do Sul, tal como ficou patente numa recente visita de empresários dos dois países ao CFB e Porto do Lobito.