Agentes da ordem em Luanda, Angola, impediram a abertura dos templos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) neste domingo, 20, para espanto dos líderes daquela denominação, num fim de semana em que foram retomados os serviços das demais religiões no país, depois de seis meses de suspensão devido à pandemia da Covid-19.
“Foi com grande consternação e surpresa que na manhã deste domingo dia 20 de setembro, em quatro endereços de nossos templos, nomeadamente no Kilamba, Estalagem, Km 30 e Samba, os bispos, pastores, obreiros e membros, foram surpreendidos com a chegada nos referidos locais de agentes policiais, onde os mesmos não estando munidos de qualquer mandato ou documentação de suporte, ordenaram o encerramento dos templos, em alguns locais de forma truculenta e excessiva, cerceando os membros e fiéis que na ocasião estavam exercendo seu direito de liberdade de culto conforme garante a constituição da República de Angola”, informou a IURD na sua página no Facebook.
O comunicado oficial acrescenta que “alguns bispos e pastores foram levados para a esquadra policial a fim de alegadamente prestarem depoimentos, em alguns casos, sem qualquer justificativa ou fundamentação”, e que “foram colocados em carros de polícia como malfeitores, sem ao menos, saber o real motivo de tal ato”.
A igreja afirma que não existe “qualquer impedimento legal ou mandato judicial que impedisse os referidos bispos, pastores, obreiros e membros de exercerem o seu ministério e cultuar nos templos mencionados, pois os mesmos não foram arrestados ou lacrados pela Procuradoria Geral da República”, o que, para a IURD foi uma operação “excessiva, desproporcional e mais uma vez controversa”.
A nota diz ainda que os oficiais não mostraram nenhum mandato judicial para o efeito, tendo dito apenas que havia uma “orientação” de que os templos da Universal não deveriam estar abertos.
Os bispos, pastores o obreiros que prestaram declarações à polícia foram depois libertados.
“A Igreja Universal do Reino de Deus, seus representantes, bispos, pastores, obreiros e milhares de membros de Cabinda ao Cunene, têm aguardado serenos e confiantes na conclusão dos processos em curso, crendo que irá prevalecer a justiça e que será julgada com equidistância e imparcialidade”, conlui o comunicado publicado no Facebook.
Disputa entre brasileiros e angolanos
Há vários meses, e na sequência uma clivagem entre dirigentes da IURD do Brasil e líderes angolanos da igreja, o assunto passou para a esfera jurídica.
A 14 de agosto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apreendeu sete templos da IURD em Luanda, por alegada prática dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal, exportação ilícita de capitais e outros ilícitos de natureza análoga.
A decisão seguiu-se a uma disputa entre pastores dissidentes angolanos e dirigentes brasileiros que resultou na ocupação de várias das catedrais pelos pastores nacionais.
Uma Comissão de Reforma da igreja destituiu, em finais de julho, a direção e elegeu novos membros, pondo igualmente fim aos serviços dos missionários brasileiros, decisões publicadas numa ata que a IURD Angola diz ser ilícita.
No seu comunicado, a IURD desmentiu “veementemente” as acusações da PGR “lamentando profundamente que a sua imagem, dos seus membros, obreiros, pastores e bispos estejam a ser manchadas, sem possibilidade de contraditório e defesa”.
Reabertura de serviços
Entretanto, neste fim de semana, as igrejas das diferentes religiões em Angola reabriram as suas portes, depois de seis meses sem serviços presenciais devido às restrições impostas pelo combate à pandemia da Covid-19.
As igrejas devem ter o máximo de 50 por cento da sua capacidade, uso de máscaras, respeitar o distanciamento físico, facilitar a higienização das mãos, entre outros medidas sanitárias.