O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, recebeu do seu homólogo da Tanzânia, John Magufuli, a promessa de tudo fazer para ajudar no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, mas o especialista em relações internacionais, Caldon Cadeado, diz que vai ser necessário esperar para ver a materialização da promessa porque os tanzanianos, que não se sentem envolvidos na exploração de gás natural na bacia do Rovuma, não confiam nos moçambicanos.
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"A Tanzânia diz que está disposta a morrer com os moçambicanos na luta contra o terrorismo, e isso encoraja-nos", declarou Filipe Nyusi, depois de se ter reunido com John Magufuli, na segunda-feira, na Tanzânia.
Os dois países já estão ligados por um Memorando de Entendimento para a fiscalização conjunta da fronteira marítima, cujos resultados, na opinião de alguns analistas, não se fazem sentir, uma vez que os terroristas continuam a fazer as suas incursões através da costa por não haver uma acção forte do lado da Tanzânia, senão quando os seus interesses são ameaçados.
O analista Calton Cadeado diz não saber se, de facto, os tanzanianos confiam nos moçambicanos e sublinha que quando se diz que os tanzanianos não estão a cooperar na luta contra os terroristas, "isso é verdade porque não estão a cooperar como os moçambicanos gostariamos".
Contudo, ele interroga-se se os moçambicanos colocam as coisas limpas do seu lado para os vizinhos poderem ter uma abordagem diferente relativamente ao conflito em Cabo Delgado?.
"Creio que não", afirma aquele analista, realçando que "eu não estou preocupado com a Tanzânia, mas sim com Moçambique, que tem a responsabilidade de resolver o problema, porque quando Moçambique resolver o problema de coordenação, de comando, de logística, de tomada de decisão e de mobilidade, aí sim estará a dar um sinal claro aos tanzanianos de que o combate ao terrorismo é sério".
Algumas correntes de opinião relacionam este debate com a descoberta de recursos energéticos em Cabo Delgado, afirmando que os tanzanianos não querem cooperar porque Moçambique ficou mais arrogante e não quer partilhar os rendimentos desses recursos.
Para Calton Cadeado, esta é uma coisa que pode ser equacionada, "mas é preciso ir muito mais a fundo da questão, sobretudo olhando para o lado interno de Moçambique, que tem de se organizar para enfrentar o terrorismo em Cabo Delgado".
Aquele especialista em relações internacionais acrescenta, entretanto, haver reclamações na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) de que o Governo de Moçambique não envolve tanzanianos, malawianos, zimbabweanos, sul-africanos, entre outros, nos projectos de desenvolvimento de infra-estruturas ou de negócios ferro-portuários".
Os Chefes de Estado da SADC reúnem-se de 17 a 20 deste mês em Maputo para analisar a situação em Cabo Delgado e suas implicações na África Austral.