A elevada adesão dos médicos moçambicanos à greve que iniciou no passado dia 10, na província de Sofala, em particular na cidade da Beira, está a comprometer o funcionamento normal dos serviços sanitários, com destaque no Hospital Central da Beira (HCB).
No distrito de Dondo, dezenas de professores paralisaram desde ontem as suas actividades em protesto pela falta de pagamento dos salários.
O HCB é uma unidade hospitalar de referência, a segunda maior do país, e serve, a nível dos serviços especializados, as províncias de Sofala, Manica, Zambézia e Tete.
Veja Também Médicos moçambicanos poderão continuar em greve por três semanasOs trabalhos nos blocos operatórios estão a funcionar a conta-gotas, os médicos-chefes que não aderiram à greve, na companhia médicos estrangeiros, não conseguem responder à demanda.
Muitas cirurgias, excetas as de urgências,não estão a ser feitas, e as consultas externas foram adiadas, causando constrangimentos aos pacientes e respectivas famílias que lamentam a situação.
‘’Vim acompanhar com familiar para uma cirurgia, não fomos atendidos, não sei se amanhã será a mesma coisa porque os médicos não estão a trabalhar”, disse um dos entrevistados, que perferiu o anonimato por medo de represárias.
Outro disse que “isto é preocupante, o Governo deve sentar-se à mesa do diálogo com a classe profissional para resolverem isso”.
O impacto da greve é mais visível nas sete enfermarias do HCB, os médicos-chefes e estrangeiros não conseguem efectuar com regularidade as visitas médicas matinais aos doentes internados, centrando as suas atenções nas consultas de urgências no Banco do Socorro, onde a enchente de utentes é indisfarçável.
Professores sem salários
No campo da educação, a situação não é muito melhor.
Dezenas de professores da Escola Secundária do Dondo e primária de Machorete, no distrito de Dondo, paralisaram desde ontem as suas atividades em protesto pela falta de pagamento do salário do mês de Junho, deixando milhares de alunos sem aulas.
Os professores ameaçam não fazer as avaliações trimestrais na próxima semana e, consequentemente, não dar as notas do segundo trimestre, caso não recebam os seus salários até segunda-feira, 31.
“Queremos a reposição do nosso salário, senão, vamos abandonar o emprego e fazer o serviço de moto-táxi. Dinheiro do ano passado de horas-extras não recebemos, sinceramente, isso revela um Estado falhado, pois um Estado sério não faz isso, respeita seus funcionários”, disse o professor Mateus Mbendana.
Contactada a administração distrita remeteu-se no silêncio.
No encerramento de uma visita de trabalho à província da Zambézia, na semana passada, o primeiro-ministro, Adriano Maleiane, reconheceu que mais de três mil funcionários ainda não tinham recebido os salários do mês de Junho, mas disse que o atraso nos pagamentos não se deve à falta de dinheiro, mas sim a problemas técnicos.
Entretanto, o Sindicato Nacional da Função Pública ameaçou desencadear uma greve no sector em reivindicação por justiça salarial.
O jornalista e activista social Jossias Sixpence afirma que as greves têm acontecido sempre nas instituições públicas, mas apenas agora estão a ganhar uma maior visibilidade.
“Essas greves vão levar mais a contornos alarmantes numa altura em que o país precisa de estabilidade económica, custo de vida tende agravar-se. Ontem subiu o preço de combustível. Essas questões se não forem antevidas em termos de respostas vão tornar a máquina governativa mais pesada”, alertou.
A Associação Médica Moçambicana deve anunciar hoje se suspende ou prorrogra a greve que começou no dia 10.