Sistema financeiro global é "projectado pelos países ricos para beneficiar os países ricos", diz António Guterres

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António Guterres, secretário-geral da ONU no “Prime Minister Speaker Series”. São Vicente, Cabo Verde

Secretário-Geral da ONU abre Cimeira dos Oceanos em Cabo Verde com alerta sobre emergência oceânica

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que os países em desenvolvimento são vítimas de um sistema financeiro global moralmente falido, projectado pelos países ricos para beneficiar os países ricos, ao discursar na abertura da Cimeira dos Oceanos, que decorre nesta segunda-feira, 23, na cidade do Mindelo, em Cabo Verde.

António Guterres acusou ainda os países mais ricos de recorrentemente negarem aos países em desenvolvimento, e nomeadamente aos "países particularmente vulneráveis de renda média e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento como Cabo Verde", financiamento concessional e alívio da dívida, de que precisam.

No evento que discute a situção dos oceanos ante o aquecimento global, o secretário-geral da ONU disse ser necessário acabar com a actual “emergência oceânica”.

Nesse sentido, ele prometeu continuar a instar os líderes e as instituições financeiras internacionais a unirem forças e desenvolverem formas criativas de garantir que os países em desenvolvimento possam ter acesso ao alívio da dívida e ao financiamento concessional.

"Acabar com a emergência oceânica significa fornecer apoio maciço aos países em desenvolvimento que vivem com os primeiros e piores impactos da degradação de nosso clima e oceanos. Os países em desenvolvimento são vítimas de um sistema financeiro global moralmente falido, projectado pelos países ricos para beneficiar os países ricos", afirmou Guterres, par quem, também, “acabar com a emergência oceânica requer indústrias marítimas sustentáveis", o que "significa práticas de pesca inteligentes e sustentáveis”.

Acabar com emergência oceânica significa, ainda, "vencer a corrida contra as mudanças climáticas", segundo o secretário geral das Nações Unidas quem ainda disse que “os países podem imitar Cabo Verde, cujas ambições de conservação e proteção marinha estão firmemente incorporadas na sua estratégia nacional de desenvolvimento sustentável, ‘Ambição 20302.
Na abertura da cimeira, o primeiro-ministro cabo-verdiano, reiterou o compromisso do seu governo numa transição da economia marítima para a economia azul pensando na sustentabilidade das populações e também na defesa e preservação dos oceanos.

Correia e Silva afirmou ser neste contexto “urgente operacionalizar os mecanismos e instrumentos de financiamento assumidos para apoiar as acções de mitigação e de adaptação face às mudanças climáticas”, e, ao mesmo tempo, “criar condições para que o sector privado tenha condições institucionais e de financiamento favoráveis para investir em sectores importantes no aumento da resiliência e diversificação da economia”.
O secretário-geral da ONU chegou a Cabo Verde no sábado, 19, e participou no “Prime Minister Speaker Series”, a convite do Chefe do Governo, Ulisses Correia e Silva.

Hoje, ele foi recebido pelo Presidente da República, José Maria Neves.

A Cimeira dos Oceanos, que aborda o futuro dos oceanos, reúne políticos, governantes, especialistas e outras personalidades eacontece durante a primeira passagem por Cabo Verde da Ocean Race, a maior e mais antiga regata do mundo.