O jornalista angolano Carlos Rosado de Carvalho bateu com a porta quando a Comissão de Gestão da TV Zimbo, agora sob tutela do Estado, o impediu de analisar, no sábado, 3, as denúncias públicas contra o chefe de Gabinete da Presidência da República, Edeltrudes Costa, na rubrica Directo ao Ponto, que ele assina naquela estação.
A emissora disse que o tema “não era oportuno”.
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O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (STA) parabeniza o jornalista pela coragem em denunciar o que considera censura e condena a atitude da TV Zimbo, que promete um posicionamento a qualquer momento.
Em conversa com a VOA, Carlos Rosado de Carvalho considera que a censura nos órgãos de comunicação estatal "vai se institucionalizando", mas não acredita que sejam ordens vindas do Presidente da República.
“Basta ver os órgãos públicos, mas não acho que sejam ordens do Presidente da República, mas sim acho que são as chefias que têm medo”, sustenta Rosado de Carvalho, quem apela aos jornalistas a fazerem apenas o seu trabalho.
Ele, no entanto, admite que o caso Edeltrudes Costa possa vir a ser analisado no próximo sábado na mesma rubrica, caso contrário “eu não regresso”.
Em nota de prostesto, o SJA felicitou o jornalista pela coragem.
“O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condena o ato de censura da Comissão de Gestão da TV Zimbo, que impediu a difusão da rubrica Directo ao Ponto, do jornalista Carlos Rosado de Carvalho, e felicita-o pela coragem em recusar e denunciar a censura”, diz a nota, que recorda que as suspeitas que recaem sobre o diretor do gabinete do Presidente da República é um assunto “de interesse público”.
O secretário-geral do STA, Teixeira Cândido considera, por isso, deplorável o argumento utilizado pelc Comissão de Gestão para impedir a abordagem da matéria na rubrica Directo ao Ponto, que “contraria manifestamente a promessa do ministro das Telecomunicações e Comunicação Social de manter inalterável a linha editorial da TV Zimbo e outros órgãos transferidos para esfera do Estado”.
A organização sindical defende que a TV Zimbo, assim como qualquer órgão de comunicação social, “tem o dever de estar ao serviço do interesse público e da sociedade, e não de grupo de pessoas, quaisquer que sejam as qualidades ou as funções que exerçam”.
O SJA espera ainda que o ato de Carlos Rosado de Carvalho “seja capaz de mobilizar os jornalistas da TV Zimbo a denunciarem qualquer outro ato interferência na gestão editorial” e solicita “à Entidade Reguladora da Conunicação Social a desempenhar o seu papel”.
Entretanto, contatado pela VOA, mas sem gravar entrevista, o coordenador para Infomação da Direção de Gestão da TV Zimbo, Amílcar Xavier, prometeu divulgar a posição do órgão a qualquer momento.
Recorde-se que em julho, a Procuradoria-Geral da República, através do Serviço Nacional de Recuperação de Ativos, confiscou as empresas de comunicação do grupo Média Nova (TV Zimbo, a Rádio Mais e o jornal O País), que foram foram entregues ao Estado para gestão até que o processo de privatização seja realizado.
A PGR justificou a medida com om fato das empresas terem sido compradas por dinheiro público.
O grupo pertencia ao antigo vice-presidente Manuel Vicente e aos generais Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino" e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior "Kopelipa", todos homens próximos do antigo Presidente José Eduardo dos Santos.