O Sindicato dos Professores Angolanos (SINPROF) quebrou o silêncio nesta quinta-feira,19, ao afirmar que o professor Diavava Bernardo está a ser acusado de crimes que não cometeu e que os processos criminal e disciplinar que impendem sobre o acusado são actos intimidatórios que visam desencorajar denúncias sobre a desorganização e o mau funcionamento das escolas do país.A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST) também já reagiu dizendo que o docente devia ser promovido.
Veja Também Estado da Educação em Angola é alarmante, dizem especialistasDiavava Bernardo, o professor que há uma semana organizou um protesto de cerca de 300 alunos para reivindicar mais carteiras numa escola de Luanda, está proibido de dar aulas durante uma semana depois de ter sido detido pela polícia e colocado sob medida de coação pessoal de Termo de Identidade e Residência (TIR).
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A polícia acusa o docente de organizar uma marcha não autorizada e do crime de danos materiais, avaliados em 1,7 milhões de kwanzas (cerca de 4 mil euros).
O presidente do SINPROF, Guilherme Silva, disse, à VOA, que “ao invés de se avançar para um processo disciplinar o ideal seria resolver o problema fundamental que é a falta de carteiras e o excesso de alunos nas salas de aulas.
“Não faz sentido nenhum porque constatou-se no terreno que não existem carteiras suficientes, as que existem não estão em condições e que há excesso de alunos nas salas de aulas”, afirmou.
Aquele sindicalista mostrou-se desapontado com a nova responsável pela Educação em Luanda que, em meio à onda de críticas sobre a actuação da polícia, terá insinuado que o professor em causa não fazia parte do Ministério da Educação.
O activista social André Augusto também entende que o professor Diavava Bernardo devia ser visto como mais um cidadão preocupado com o bem-estar dos alunos e com os direitos das crianças a um ensino de qualidade.
"Devia ser promovido"
“Qualquer profissional que se preze e qualquer criança que sabe que existe dinheiro público para estas necessidades têm o direito de reclamar. É inadmissível que em Luanda haja falta de carteiras nas escolas”, afirma Augusto.
Também o porta-voz da CEAST, Dom Belmiro Chissengueti, entende que o professor Diavava Bernardo “devia ser promovido”.
“Se eu tivesse poder, este professor seria imediatamente promovido, pois, a sua atitude abriu a mente das crianças que devem ser ajudadas a saberem pensar pelas próprias cabeças e não manipuladas para um masoquismo doentio que leva à resignação e ao fatalismo”, defende o bispo católico num comentário feito na sua conta do facebook.
Para aquele sacerdote, a mais recente manifestação das crianças, nesta fase de elaboração do Orçamento Geral do Estado deve obrigar, com urgência, a diminuir a importação de tanques de guerra e balas em 2023, pois os que desfilaram no dia 15 de Setembro são suficientes para o próximo ano.
“Não se deve brincar com a educação. Não temos dinheiro nem possibilidades de enviar os nossos para as melhores escolas do estrangeiro. Melhoremos as nossas que foram muito boas. Deixem o professor em paz e que continue a desempenhar a sua profissão!”, pediu o porta-voz da CEAST, Dom Belmiro Chissengueti.
O docente encabeçou no dia 13 uma marcha de 300 alunos no município de Viana em direcção à repartição da Educação para pedir carteiras.
Ele foi detido e responde a um processo.