Sindicato angolano acusa empresa chinesa de escravatura moderna

Joaquim de Sousa, secretário-geral do Sindicato de Pescas e Derivados, Benguela

Carca de 400 trabalhadores de uma empresa chinesa de pesca na província de Benguela estão sob cativeiro há três meses, sem contato com o exterior, num cenário equiparado à escravatura moderna, com trabalho duro e maus-tratos.

A denúncia, já confirmada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Pescas e Derivados, aponta para prostituição na ‘’Guanda Pesca’’, onde se encontram cerca de 200 senhoras.

Em pouco mais de cinco minutos à conversa com a VOA, ao lado de colegas, um funcionário da empresa explica que a pandemia da Covid-19 está a servir de pretexto para esta realidade, com a gestão chinesa apostada em arrastar o acantonamento para o próximo ano.

‘’Fez três meses a 23 de Junho, eles não nos deixam sair, dizem que só no próximo ano. Aqui é só trabalhar, dormir, acordar e voltar a trabalhar, é muito duro. A alimentação às vezes chega a ser péssima, e somos obrigados a fazer horas extras aos domingos, recebemos 200 kwanzas por hora’’, conta o empregado.

Prostituição

Perante sinais de cárcere privado, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) esteve no local, a região da Caota, município de Benguela, mas sem contato com funcionários, tal como a Inspecção do Trabalho e a Direção das Pescas.

Inauguração da empresa Guanda Pesca em julho de 2018

O funcionário, que não quis ser identificado, resume o drama de senhoras que procuram ganhar a vida no processamento do pescado.

“As mulheres, pelo menos as mais fracas estão a ‘vender-se aos chineses’. Aqui há relações sexuais a troco de dinheiro, é triste a vida. As entidades, incluindo o SIC, nunca falam connosco quando visitam a pescaria’’, acrescenta o funcionário.

A ‘’Guanda Pesca’’, uma das três companhias inauguradas em julho de 2018, num investimento total superior a 65 milhões de dólares, é uma empresa reincidente, segundo o secretário-geral do Sindicato das Pescas e Derivados, Joaquim de Sousa.

Sindicato acusa, empresa minimiza

‘’Não serem autorizados a sair da empresa para junto das suas famílias é mesmo trabalhar sob cativeiro, é pior que uma penitenciária. É mesmo uma escravatura moderna que os nossos irmãos chineses impõem, os angolanos devem obedecer tudo’’, lamenta o sindicalista.

Por seu lado, o diretor administrativo da empresa, Reis Augusto, angolano, minimiza a denúncia e sublinha que se trata do descontentamento de uma minoria.

‘’É só um ou outro que diz que quer sair, não tem impedimento nenhum, mas no regresso fica sujeito a medidas de segurança. Claro que não pode ter contato directo com os outros. Quanto às condições … são as possíveis’’, argumenta o diretor.

O SIC promete pronunciar-se nas próximas horas.