Sindicalistas e quadros da educação em Angola consideram a decisão do Governo de recorrer à assessoria portuguesa para a elaboração e realização dos primeiros exames nacionais no país como reveladora da falta de valorização dos quadros angolanos.
Os governos de Angola e Portugal assinaram na sexta-feira, 6,em Luanda, um protocolo relativo ao projeto-piloto “Exames Nacionais Angola 2022”, que será realizado em Junho para 2.100 alunos das 18 províncias angolanas nas disciplinas de língua portuguesa e matemática.
O sindicalista Francisco Jacinto diz que a decisão do Governo “denota falta de patriotismo” por parte dos gestores do país e revela o ostracismo a que são remetidos os quadros angolanos, que afirma serem muitos.
O também líder da Central Geral dos Sindicatos Livres de Angola (CGSILA) acrescenta que com esta atitude o país está a passar o seu próprio certificado de incompetência.
“Nós desprezamos os angolanos e pergunto se passados 47 anos de Independência aquele que está na liderança do país sente-se como angolano e disposto a realizar o país. Parece-me que não”, sustenta.
Por seu turno, o professor Eduardo Hilário diz à VOA a partir de Malanje que “a não valorização dos quadros, grande parte formada em Portugal, tem levado a país ao abismo”.
Hilário manifesta-se desapontado com o reiterado recurso à assessoria portuguesa, afirmando que “ o país tem quadros capazes de fazer o mesmo trabalho”.
“Não faz qualquer sentido”, considera o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Admar Ginguma.
Para o sindicalista, “o país tem professores qualificados em matéria de avaliação para dar corpo aos exames nacionais”.
Pelo menos 250 técnicos da educação de Angola, maioritariamente professores, estão a ser formados por formadores portugueses, nas disciplinas de língua portuguesa e matemática, visando a realização dos primeiros exames nacionais em Angola, previstos para 23 e 24 de Junho.
A ministra da Educação Luísa Grilo afirma que o protocolo vem sinalizar a “responsabilidade e o sentido de compromisso” assumido entre as duas partes (Angola e Portugal) na realização dos exames-piloto, daí o recurso ao apoio especializado português para a avaliação externa do sistema educativo angolano.
Apesar da extensão territorial angolana, “onde as províncias são muito distantes uma da outra”, Luisa Grilo manifesta grande expectativa sobre os exames e acredita que esta primeira avaliação “vai correr bem, sobretudo devido à motivação” dos professores e formadores.