O clima de medo e apreensão voltou a instalar-se durante o fim-de-semana no seio da comunidade muçulmana na província angolana da Lunda Norte após a detenção de sete dos seus membros pela polícia municipal do Chitato.
Nesta segunda-feira, 10, os detidos devem ser apresentados ao Ministério Público sob a acusação de crime de desobediência, de acordo com o representante local da comunidade muçulmana, António Muhalia.
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Em conversa coma VOA, Muhalia disse que a ordem de detenção foi dada pelo Governo provincial e executada pelo comandante municipal da Polícia Nacional.
“Seis dos nossos membros foram detidos dentro da mesquita e o vice-representante da comunidade foi preso no sábado na esquadra quando pretendia saber a razão das detenções”, afirmou Muhalia.
Pela segunda vez, em cerca de um ano, membros da comunidade muçulmana são detidos e os seus locais de culto encerrados na província da Lunda Norte.
Entretanto, o secretário-geral da Comunidade Islâmica em Angola, David Já , diz que a atitude das autoridades da Lunda Norte contraia as promessas feitas, na última semana, pelo ministro de Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, quem se terá mostrado aberto ao diálogo visando o reconhecimento da confissão religiosa “dentro de seis meses”.
“Angola sendo um país multirreligioso, não cabe ao Estado escolher que religião o seu cidadão deve seguir”, sublinha David Já, quem considera “um contra senso" todos os entraves que se tem colocado ao reconhecimento oficial da comunidade islâmica em Angola.
O ministro Jomo Fortunato admitiu, na semana passada, a possibilidade de uma revisão dos critérios para o credenciamento de novas confissões religiosas.
Para Fortunato, “os critérios doutrinários e dos dogmas têm que ser revistos, porque há "práticas não muito boas" e questões muito sensíveis para a sociedade "que têm que ser vistas com maior acuidade".
O ministro justificou a intenção do Governo com o argumento de que “existem no país práticas ditas religiosas que não são recomendadas", nomeadamente, acusar crianças de feitiçaria, de crentes que mudaram totalmente de comportamento e da linha de educação familiar.
De acordo com dados do Instituto Nacional para Assuntos Religiosos (INAR), Angola tem 81 igrejas reconhecidas e 97 por reconhecer, das quais 16 têm em curso o processo de reconhecimento pelo Estado, havendo ainda cerca de três mil confissões religiosas ilegais no país.
Informações disponíveis apontam que 80% dos seus cidadãos angolanos consideram-se cristãos e 12% ateus, encontrando-se igualmente entre a população crentes da religião muçulmana, judia e hindu.