O secretário de Estado no Niassa, Dinis Vilanculo, diz haver movimentações estranhas em alguns distritos daquela província, que podem ser de terroristas que fogem da vizinha província de Cabo Delgado, numa altura em que, entre analistas, se discute o que está a acontecer no norte de Moçambique, se terrorismo ou insurgência.
Vilanculo, que falava no encontro do Conselho dos Serviços de Representação do Estado, afirmou que tais movimentações registam-se em pelo menos seis distritos do Niassa, incluindo Mecula, que nos últimos tempos tem sido alvo de ataques jihadistas, um dos quais, segundo a imprensa, foi a 29 de Novembro findo.
"Estamos preocupados com isso; temos que reforçar a vigilância, porque podem ser terroristas que vêm da província de Cabo Delgado", afirmou aquele responsável.
Entretanto, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, diz que fazer esta afirmação, sem apresentar medidas concretas para travar essas movimentações, "é lamentável, e isso significa que a situação do terrorismo está a alastrar-se a todo o país e coloca os moçambicanos em alvoroço".
Alguns analistas políticos afirmam que a movimentação de insurgentes em Niassa e Nampula pode resultar de ofensivas das tropas ruandesas, moçambicanas e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Cabo Delgado, onde, segundo o ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, "os terroristas já não têm bases fixas".
Há cerca de uma semana chegou a Moçambique mais um contingente militar para se juntar ao que já se encontrava no país desde 2021, para ajudar as tropas moçambicanas no combate à insurgência em Cabo Delgado.
Refira-se que o Estado moçambicano assume que o que está a acontecer no norte do país é terrorismo e não uma insurgência, uma posição com a qual não está de acordo o investigador do Instituto de Estudos de Defesa e Segurança de África, Borges Namirre, para quem, "o que temos ali é insurgência que usa terrorismo como meio de actuação".
Para Namirre, trata-se de uma insurgência "que deve ser entendida com um levantamento armado contra o Estado, usando, por vezes, terrorismo como meio de actuação; quando os insurgentes atacam uma posição das Forças de Defesa e Segurança não estão a cometer terrorismo, isso só acontece quando atacam civis".
Contudo, para o analista político Moisés Mabunda, o que se passa no norte de Moçambique é mais terrorismo do que insurgência "porque não posso compreender a logíca de alguém que estando desavinco com o Estado, pôe-se a decapitar mulheres, crianças, jovens e idosos".
Por seu turno, Calton Cadeado, especialista em assuntos de segurança e docente na Universidade Joaquim Chissano, diz que tem reticências em relação à posição do Estado moçambicano sobre a situação no norte de Moçambique porque, neste momento, há uma mistura de várias coisas.
"Há ali uma mistura de actos de sabotagem, de guerra de guerrilha, de crime organizado e de terrorismo; o Estado assume que é terrorismo, mas se discutirmos o que é terrorismo, podemos ter muitas dúvidas", realça aquele académico.
Refira-se que o Conselho da União Europeia (UE) adoptou nesta quinta-feira, 1, medidas de assistência militar, incluindo uma verba de 20 milhões, para a força de defesa ruandesa deslocada em Moçambique.
A verba destina-se a comparticipar a aquisição de equipamento e a cobrir custos com a manutenção de vias aéreas estratégicas para apoiar a deslocação ruandesa em Cabo Delgado.