Nas últimas semanas a insurgência assumiu contornos mais do que preocupantes, tendo levado o Papa Francisco, em missa do Domingo de Páscoa, a pedir misericórdia divina à população de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, que tem sido alvo de ataques terroristas.
“Que o Senhor da vida se mostre próximo das populações da Ásia e da África, que estão a atravessar graves crises humanitárias, como na região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique,” pediu Francisco na oração Urbi et Orbi (à cidade e ao mundo).
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Internamente, analistas questionam o silêncio das autoridades perante a escalada de violência.
Os ataques aumentam em número, intensidade e no nível de destruição, em contrapartida fica uma ideia de apatia do Estado; não se compreende como é que depois de terem atacado Mocímboa da Praia, da maneira como o fizeram, o Estado não tenha se organizado rapidamente para proteger os distritos seguintes”, diz o pesquisador Adriano Nuvunga, diretor do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD).
Não se constroem estados, nações ou repúblicas fortes com mercenários
Nuvunga diz que “há imagens que mostraram que o Estado está a recorrer a mercenários para defender a nossa pátria. Isso só é muito preocupante, não se constroem estados, nações ou repúblicas fortes com mercenários”.
Ele é de opinião que o facto de nos locais atacados ter sido içada a bandeira do Estado Islâmico ainda não é suficiente para identificar a real autoria e os objectivos dos atacantes.
“Ainda não estou suficientemente convencido de que aquele é o rosto; quando falamos do rosto não estamos a falar dos combatentes, estamos a falar daqueles que mandam as pessoas, quem é que está por detrás destas pessoas, quem as equipa, quem dá orientação, quem lidera estas pessoas? Rosto para mim é isso, e isso não está claro ainda”, comenta Nuvunga.
O pesquisador sugere uma intervenção regional para conter a escalada de violência no norte de Moçambique.
“Há uma necessidade da intervenção da SADC (comunidade de países da África Austral), é verdade que a SADC é aquela entidade que todos nós conhecemos, amorfa, mas tem que ser mobilizada para intervir aqui”, diz o pesquisador do CDD para depois acrescentar.
Nuvunga adverte que se se Moçambique e Cabo Delgado, em particular, forem instáveis, “toda região vai estar instável, então é do interesse da SADC ainda enfraquecida que está, mas é preciso que intervenha e através dela se chegar à União Africana para abordar esta situação”.
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