Sarah Maldoror, Prémio de Cultura e Artes 2020 de Angola

Sarah Maldoror, cineasta

“Sarah Maldorar foi uma porta-voz dos oprimidos, das populações mais desfavorecidas de África e do mundo em geral”, diz a filha da cineasta.

Sarah Maldoror foi a vencedora do Prémio de Cultura e Artes na disciplina de cinema e áudio-visuais, a título póstumo, anúncio feito pela comissão do júri do prémio a 30 de outubro.

Henda Ducados, filha da cineasta, diz que a família recebeu de bom agrado o reconhecimento do Governo angolano pelo contributo de Sarah na denúncia da opressão colonial que existia em Angola, então província ultramarina portuguesa.

Your browser doesn’t support HTML5

Sarah Maldoror, Prémio de Cultura e Artes - 18:30

“Sarah Maldorar foi uma porta-voz dos oprimidos, das populações mais desfavorecidas de África e do mundo em geral”, diz a filha da cineasta.

Companheira de Mário Pinto de Andrade (1928-90), com quem teve duas filhas, envolveu-se na luta pela independência das colónias africanas.

Percorreu um vasto percurso cinematográfico de grande qualidade e persistência.

Realizou em 1972 o famoso Sambizanga que, tal como Monangambê (1971), é inspirado na obra A Vida Verdadeira de Domingos Xavier, de Luandino Vieira.

Do escritor, a cineasta retém “o diálogo íntimo, do sujeito angolano silenciado, cuja história é contada numa perspectiva alternativa e contestatária do colonizador opressor”, escreve Maria do Carmo Piçarra em Angola, o Nascimento de uma Nação.

Sambizanga foi filmado durante sete semanas em Brazzaville, no Congo.

Abordando a guerra colonial portuguesa, no período 1961-1974, tornou-se um dos mais importantes filmes sobre a resistência africana.

Mário Pinto de Andrade foi co-argumentista.

A história centra-se na procura de uma jovem mulher pelo seu marido preso e culmina num conto de separação e brutalidade que, através da perícia de Maldoror, torna-se muito afirmativo.

Sarah Maldoror define-se como tendo um papel cultural na sétima arte, fazendo pesquisa cinematográfica sobre a História africana, “a História tem sido escrita por outros e não por nós, diz a autora numa entrevista de Beti Ellerson, de 1997.

“Se eu não me interesso pela minha própria história, quem vai se interessar? Eu acho que é necessário defendermos a nossa própria história, e que a tornemos conhecida – com todas as nossas qualidades e defeitos, nossas esperanças e desesperanças”, afirmou.

Foi a cineasta homenageada no primeiro FIC Luanda (Festival Internacional de Cinema), em 2008, e nessa altura pôde revisitar Angola, país que tanto ocupou a sua criação.

Sarah Maldoror viveu em Paris, onde morreu a 13 de abril de 2020.