Rádios comunitárias guineenses procuram formas de abordar conflitos no campo

Guine-Bissau, rádio comunitária

O aumento do número de conflitos entre os criadores de gado e agricultores desperta a atenção dos profissionais das rádios comunitárias em Bafatá e Gabú.

Autoridades e organizacções nacionais e internacionais também têm manifesta muita preocupação com este problema que pode ter outras consequências.

Além de roubo de gado, Gabú e Bafatá, duas regiões localizadas no leste da Guiné-Bissau, reportam grande número de conflitos entre criadores de gado e agricultores.

Uma situação que não só preocupa as autoridades políticas e administrativas locais, porquanto tem posto em causa a paz comunitária, mas também está a suscitar esforços entre vários atores estatais e não estatais que atuam naquela zona leste do país.

Mónica João Nhafna, jornalista residente em Bafatá, uma das profissionais especializada na gestão e prevenção de conflito comunitário, fala de uma realidade difícil naquela região, cujas atividades dominantes são agricultura, pecuária, comércio e pesca.

"Os criadores de gado consideram que não têm culpa pelo fato dos seus animais estarem a invadir as plantações. Uma avaliação contrária ao dos agricultores, que acham que os criadores de gado são culpados em deixar os seus gados a apossar-se das suas hortas, destruindo as suas plantações",a lembra Nhafna.

Agostinho Na Bilna, da Rádio Gandal, em Gabú, descreve o cenário de conflito que se assiste naquela região e junto à vizinha Guiné Conacri entre os criadores de gados e os agricultores.

"Na Guiné-Bissau, não há delimitação de espaços para pastagens, o que permite com que os gados estraguem as plantações. Esta situação tem provocado conflitos a nível das comunidades. Ainda, recentemente, registamos a denúncia dos guineenses criadores de gado, que vivem na vizinha Guiné Conacri, de que entraram em confrontos com as respectivas comunidades devido aos seus gados", conta Agostinho Na Bilna.

Em conversa com a Voz da Am~erica, Mário Tedo, perito e coordenador do projecto da Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) sobre a gestão pacífica e inclusiva dos Recursos Naturais nas Regiões de Bafatá e Gabú, afirmou que "aumentar a marginalização dos criadores de gado por ter como consequência a redução da coesão social".

Para os profissionais da imprensa é aqui que entra o papel das rádios comunitárias na abordagem desses conflitos.

"O nosso papel é o habitual: informar e sensibilizar as comunidades que, ao abrigo dos princípios da CEDEAO, os cidadãos da Guiné-Bissau podem entrar no Senegal com os seus bens, como também os do Senegal e de outros países da subregião podem fazer o mesmo, vir para a Guiné-Bissau e criar o seu gad", explica Agostinho Na Bilna.

No entanto, Mário Tedo defende a necessidade de mobilização de mais profissionais das rádios comunitárias e de atores estatais e não estatais na abordagem dos assuntos ligados aos conflitos pastoral e transumância na Guiné-Bissau, como forma de evitar o agravar da situação igual aos outros países africanos.

"Temos que ajudar os atores, nomeadamente criadores de gado, os agricultores, administração local a tomar em conta como evitar os conflitos, antes que sejam conflitos fatais tal como existem nos outros países da África de Oeste e Central, onde há ataques entre as pessoas, resultando-se em mortos", conclui aquele perito.

Esta situação despertou a atenção da FAO que financiou uma formação de cerca de duas dezenas de profissionais das rádios comunidades no leste da Guiné-Bissau.