O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, pressionou terça-feira o Ruanda para um cessar-fogo imediato na República Democrática do Congo, ao manifestar preocupação com a entrada de rebeldes apoiados por Kigali na importante cidade de Goma.
Numa chamada com o presidente ruandês Paul Kagame, Rubio "sublinhou que os Estados Unidos estão profundamente preocupados com a escalada do conflito em curso no leste da RDC, particularmente com a queda de Goma para o grupo armado M23, apoiado pelo Ruanda", disse um comunicado do Departamento de Estado.
O novo chefe da diplomacia norte-americano "pediu um cessar-fogo imediato na região e que todas as partes respeitassem a integridade territorial soberana", afirmou. Há anos que os Estados Unidos alertam o Ruanda sobre o apoio aos rebeldes. Sob a anterior administração de Joe Biden, os Estados Unidos negociaram um acordo frágil para aliviar as tensões.
O Presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, deverá encontrar-se com o seu homólogo ruandês, Paul Kagame, numa cimeira de emergência esta quarta-feira.
Exército congolês tenta travar M23
As forças de segurança congolesas tentaram atrasar o avanço dos rebeldes do M23 apoiados pelo Ruanda, que dizem ter capturado Goma depois de entrarem na maior cidade do leste da República Democrática do Congo..
Autoridades da ONU relataram corpos nas ruas e hospitais lotados.
Goma é um centro comercial e humanitário e tornou-se um refúgio para centenas de milhares de pessoas que agora fogem dos tiros e dos bombardeamentos numa grande escalada de um dos conflitos mais longos de África.
A violência ecoou longe de Goma, enquanto os manifestantes na capital do país atacaram pelo menos 10 embaixadas, incluindo as de França e dos EUA, que pediram aos cidadãos que abandonassem a cidade.
Os rebeldes do M23 são um dos cerca de 100 grupos armados que disputam uma posição na província de Kivu do Norte, rica em minerais essencial para grande parte da tecnologia mundial.
Muitos continuaram a fugir através da fronteira para o Ruanda, enfrentando fortes chuvas e, por vezes, sendo apanhados em tiroteios entre soldados congoleses e rebeldes.
Uma ira crescente na capital
Dezenas de manifestantes saquearam e atearam fogo a partes de pelo menos 10 edifícios de embaixadas estrangeiras na capital, Kinshasa, incluindo as do Ruanda, EUA, França, Bélgica e Quénia.
Os manifestantes exigiram que a comunidade internacional condenasse o Ruanda pelo seu papel no conflito.
Os ataques foram condenados pelos respetivos países, bem como pelo Governo congolês, que disse ter reforçado a segurança nas embaixadas.
Vários países, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido e a França condenaram o Ruanda pelo avanço rebelde.
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana exigiu que o M23 e outros grupos rebeldes "se retirem imediata e incondicionalmente, cessem os seus ataques, se dissolvam permanentemente e deponham as suas armas".
Rebeldes do M23 encorajados, planeiam estabelecer administração em Goma.
Mas não ficou claro quanto de Goma é controlado pelos rebeldes do M23, embora os analistas digam que estão mais encorajados do que em 2012, quando tomaram temporariamente a cidade antes de serem forçados a retirar devido à pressão internacional.
O risco de um confronto regional
O grupo ressurgiu no final de 2021 com o apoio crescente do Ruanda, de acordo com o governo do Congo e especialistas da ONU. O Ruanda negou tal apoio, embora os especialistas da ONU estimem que existam até 4.000 forças ruandesas no Congo.
Manzi Ngarambe, representante da diáspora M23, disse à AP que o grupo está no controlo de Goma e planeia estabelecer uma administração na cidade para que as pessoas possam continuar a viver vidas normais e os deslocados possam regressar a casa.
Ngarambe disse que estaria disposto a sentar-se à mesa com as autoridades congolesas e negou que estivesse a ser apoiado pelo Ruanda.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Olivier Nduhungirehe, disse que o presidente congolês, Félix Tshisekedi, "terá de aceitar negociações com o M23 para pôr fim à situação de uma vez por todas".
O objectivo do Ruanda no Congo é proteger as suas fronteiras contra ataques, disse à AP o porta-voz do exército, o Brigadeiro- general Ronald Rwivanga, acrescentando que as medidas apropriadas seriam "abrangentes", incluindo o uso de defesa aquática, aérea e terrestre.
O presidente ruandês, Paul Kagame, acusou recentemente o Congo de alistar rebeldes hutus e ex-milicianos, que responsabiliza pelo genocídio de 1994.
Alguns analistas mostram-se preocupados com o risco de uma guerra regional se os esforços de paz liderados pelo Quénia falharem.
As tentativas anteriores de diálogo entre os líderes congoleses e ruandeses falharam, incluindo em dezembro, quando a reunião dos dois líderes foi cancelada.
O Congo pode procurar apoios de países como a África do Sul — cujas tropas estão entre os militares estrangeiros no Congo — enquanto o Ruanda pode estar motivado para continuar a apoiar os rebeldes do M23, disse Murithi Mutiga, director do programa para África no Crisis Group.
"O risco de um confronto regional nunca foi tão elevado", disse Mutiga.