No meio de alguma controvérsia entre os membros da família do antigo Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, as autoridades guineenses procederam nesta segunda-feira, 16, à transladação dos seus restos mortais à Fortaleza de Amura.
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O acto foi realizado no dia das Forças Armadas, que assinala a sua criação a 16 de novembro de 1964.
Do cemitério municipal, em Bissau, para a Fortaleza de Amura, os restos mortais do antigo Presidente juntam-se aos de vários outros antigos combatentes da liberdade da pátria, entre os quais o líder da luta armada Amílcar Cabral e os antigos Presidentes Malam Bacai Sanha e Koumba Yala.
Na cerimónia animada por discursos e uma parada militar, o Presidente da República, Umaro El Mocktra Sissoco Embaló, destacou a importância da figura do antigo Chefe de Estado guineense, Nino Vieira
“Combatente corajoso, patriótico, convicto, estadista, líder carismático, que deu a sua vida em prol do nosso país e marcou a nossa historia, tanto durante a luta armada, como enquanto Presidente da Republica”, disse Embaló, que também promulgou no passado dia 12, um decreto do Governo que atribuiu o título de Herói da Luta Armada de Libertação Nacional ao antigo chefe de Estado João Bernardo.
O analista político Rui Landim destaca o significado histórico deste acto assumido pelo actual Presidente da República.
“Significa uma recuperação de uma página gloriosa da história da Guiné-Bissau, que andava nas ruas da amargura. Este reconhecimento é no entanto tardio e continua incompleto porque devia ser a Assembleia Nacional Popular a fazê-lo e a pensar na construção de uma Mausoléu para Nino Vieira, porque não um monumento”, questiona Landim.
A iniciativa do Presidente, Umaro El Mocktar Sissoco Embalo, em proceder à transladação dos restos mortais de João Berardo Vieira, junto ao Mausoléu Amílcar Cabral, aconteceu sem que ainda se conheçam os autores morais e materiais do seu assassinato.
Carta aberta da filha
Na família de Vieira, já há reacções.
Na semana passada, uma das filhas do antigo Presidente endereçou uma carta aberta ao Chefe de Estado e ao primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabian.
Na sua página no Facebook, Florença João Vieira considerou “precipitada” a decisão e manifestou a sua “tristeza e descontentamento”, afirmando que nunca foram consultados, enquanto ainda esperam pela justiça.
Este aspecto é destacado pelo investigador pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Fodé Mané.
“A família não foi tida nem achada. Simplesmente uma pequena parte da família ou uma figura da família que pode ser importante é que foi abordada. Mas, nós sabemos como é que a família africana é alargada, onde as decisões não cabem apenas as cônjuges ou descendentes. Há pessoas, os patriarcas da família que decidem. E pelo que vimos não foi o caso e nem se respeitou a própria cultura, ou ritual do guineense ou da própria etnia, a qual pertence [Nino Vieira]”, aponta Mané, quem diz não ser oportuna a transladação dos restos mortais neste momento.
Recorde-se que o caso sobre o assassinato Nino Vieira foi arquivado pelo Ministério Público, em 2017, alegando “obediência à ordem” do Supremo Tribunal de Justiça, “ao determinar que o arquivamento ocorre de forma peremptória, findo os seis meses de investigação”.
O antigo chefe de Estado foi assassinado a 2 de março de 2009, horas depois de então chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas general Tagme Na Waié ter sido morto numa explosão no antigo Estado-Maior General das Forças Armadas.