"Repudiamos quaisquer tentativas de deslocalização do povo palestiniano dos seus territórios", diz João Lourenço

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João Lourenço, Presidente de Angola e em exercício da União Africana, discursa na Cimeira da Liga Árabe, Cairo, Egito, 3 março 2025

Presidente angolano e em exercício da União Africana discursou na Cimeira da Liga da Árabe e fez uma forte defesa do Estado palestiniano

O Presidente angolano, na qualidade de Presidente em exercício da União Africana (UA) rejeitou nesta terça-feira, 4, qualquer tentativa de deslocar o povo palestiniano dos seus territórios, pediu o regresso da ajuda humanitária a Gaza e o fim da guerra e reconheceu a Autoridade Palestiniana e criação do Estado Palestiniano.

Ao intervir na Cimeira da Liga Árabe que decorre no Cairo, Egito, em noma dos Estados africanos, João Lourenço instou as autoridades israelitas a permitirem a abertura de corredores humanitários, bem como o regresso de mais de dois milhões de cidadãos palestinianos deslocados internamente e refugiados nos países vizinhos.

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“África, através da sua organização continental, que tenho a honra de presidir, tem manifestado sistematicamente o seu apoio incondicional à causa do povo palestiniano relativamente ao seu direito à autodeterminação com base nos princípios do Direito Internacional e das resoluções das Nações Unidas, como forma de solução política baseada na coexistência de dois Estados, premissa fundamental para a paz, a estabilidade e a segurança para os povos e países da região”, afirmou Lourenço, lembrando que o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, esteve presente na Conferência dos Chefes de Estado e de Governo, realizada nos dias 15 e 16 de Fevereiro em Adis Abeba.

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O Presidente em exercício da UA recordou que, após os ataques perpetrados pelo Hamas, “que repudiamos e condenamos com veemência, assistimos, na região, à escalada de um conflito sem precedentes, face à resposta militar desproporcional de Israel contra o povo palestiniano, assumindo contornos graves pelos níveis de destruição, de perdas de vidas humanas inocentes e a catástrofe humanitária sem precedentes na Faixa de Gaza, que assumiu contornos de genocídio”.

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Lourenço ainda destacou que assistiu-se igualmente ao perigo do alastramento deste conflito a toda região do Médio Oriente, “cujas implicações seriam profundamente nefastas para a paz e a estabilidade regional e, quiçá, para a humanidade”.

O Presidente angolano disse congratular-se com o processo de libertação dos reféns israelitas em curso, pediu a “libertação incondicional da totalidade dos cidadãos palestinianos mantidos em cativeiro” e afirmou augurar que “esta ação reflita o início da construção definitiva da paz através da instauração de um cessar-fogo permanente, facilitando o incremento da ajuda humanitária aos habitantes de Gaza, bem como o início da reconstrução dos seus territórios”.

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Neste contexto, João Lourenço exortou “as autoridades de Israel que permitam a abertura de corredores humanitários, bem como o regresso dos mais de dois milhões de cidadãos palestinianos internamente deslocados e refugiados nos países vizinhos”.

“Repudiamos quaisquer tentativas de deslocalização do povo palestiniano dos seus territórios, da contínua política de expansão dos colonatos, da ocupação e anexação ilegal de território pertencente à Palestina”, acrescentou o Presidente em exercício da UA que exortou à “tolerância e coexistência entre religiões, evitando-se o fanatismo e radicalismo que pode conduzir ao exacerbar do ódio e da violência entre os povos”.

Lourenço classificou de “extremamente oportuna” a realização da Cimeira da Liga Árabe para o reforço de uma posição comum relativamente à causa do povo palestiniano e, em particular, “os atuais desafios de reconstrução e regresso da população”.

“Reitero, em nome da União Africana, o compromisso de juntos trabalharmos em prol do alcance de uma paz duradoura e sustentável no conflito que opõe Israel ao Hamas”, continuou Lourenço quem disse reconhecer “a Autoridade Palestiniana” e manifestou, em noma da UA, “o nosso total apoio à sua luta pelo direito à autodeterminação, conforme a resolução 149 das Nações Unidas de 1948 e resoluções subsequentes, bem como o seu território com base nas fronteiras anteriores a 4 de Junho de 1967 e Jerusalém Oriental como sua capital”.

Na Cimeira, o Governo do Egito propôs um plano de 53 mil milhões de dólares para reconstruir Gaza ao longo de cinco anos, com foco na ajuda de emergência, na restauração de infra-estruturas e no desenvolvimento económico a longo prazo, de acordo com um projeto em discussão na Cimeira da Liga Árabe que decorrer nesta terça-feira, 4, no Cairo a que a AFP teve acesso.

A proposta contraria um plano apresentado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, no mês passado para assumir o controlo de Gaza, devastada pela guerra e deslocar a sua população, nomeadamente para o Egito e a Jordânia.
O plano é integrado por duas várias fases, uma de recuperação e outra de reconstrução.