A bancada parlamentar da Renamo acusa as autoridades moçambicanos de “silencio cúmplice” e“saúda” o que descreve como “acção enérgica tomada pela justiça norte-americana” que resultou na detenção do antigo ministro das Finanças Manuel Chang, de três ex-banqueiros do Crédit Suisse e um tunisino que era ponte de ligação de empresas moçambicanos no Dubai.
Todos estão envolvidos no caso das chamadas dívidas ocultas, que envolveram cerca de dois mil milhões de dólares não declarados nas contas do Estado.
“A Renamo entende que a prisão do ex-ministro Chang e dos ex-banqueiros do Credit Suisse acusados de ilícitos financeiros no processo das dívidas ocultas é a confirmação das confirmações de que houve prática criminal por parte dos dirigentes da Frelimo envolvidos no processo que devem ser responsabilizados”, lê-se no comunicado da bancada parlamentar do principal partido da oposição, que, aponta o “silêncio cúmplice das autoridades moçambicanas”, nomeadamente a Procuradoria-Geral da República, o Conselho Constitucional, a Assembleia da República e o Governo.
A Renamo exige um pronunciamento do Presidente da República, do Conselho Constitucional, da Procuradoria Geral da República e da Presidente da Assembleia da República, “que não deve continuar calada diante da prisão, no estrangeiro, de um dos membros do Parlamento moçambicano tido como peça fundamental da mega-fraude que desgraçou o povo moçambicano”.
Leituras no exterior
A nível internacional, as reacções não se fizeram esperar.
O analista do centro de pesquisa Chatham House, com sede no Reino Unido, Alex Vines disse à VOA que a prisão pode ser um divisor de águas.
"Tudo indicava que nada aconteceria com esses milhões, provavelmente bilhões, de dólares que não foram contabilizados. A acusação que ocorreu do Tribunal Distrital dos Estados Unidos, Distrito Leste de Nova York, por personagens-chave envolvidos neste escândalo de empréstimo, é muito muito significativo, um divisor de águas”.
Entretanto, aquele analista diz desconhecer como o Presidente moçambicano Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa, irá emergir desse escândalo, mas acrescentou que isto pode ser positivo para os investidores que estão ansiosos para entrar em Moçambique, principalmente no negócio do gás.
"O Fundo Monetário Internacional e os doadores suspenderam os empréstimos a Moçambique, mas agora querem investir e,mais uma vez, penso que isto pode ajudar a esclarecer as coisas de tal forma que a longo prazo, a relação de Moçambique com alguns dos seus credores internacionais e parceiros internacionais será melhor”, concluiu Alex Vines.
Também a organização não governamental britânica Comité para o Jubileu da Dívida elogiou a detenção de três antigos banqueiros do Credit Suisse e defendeu que são os bancos que devem pagar a dívida.
Numa nota enviada à imprensa, , a organização escreve que “a investigação deve revelar mais evidências sobre como estes empréstimos foram usados para defraudar o povo de Moçambique, que não deve ter de pagar um cêntimo de uma dívida sobre a qual não teve qualquer palavra nem benefício”.