A exoneração de Isabel dos Santos no conselho de administração da Sonangol está ser interpretada por muitos angolanos como o desmoronar do império económico dos filhos do ex presidente da República, José Eduardo dos Santos e do ambiente de impunidade em Angola.
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Mas analistas políticos avisam que a sua demissão tem mais a ver com a afirmação do novo presidente e nomeação de pessoas da sua confiança do que outros motivos, embora questões como pressão publica possam ter desempenhado um papel na decisão.
Esta semana o Presidente João Lourenço exonerou a filha do ex-Presidente da
República da administração da petrolífera Sonangol, ao mesmo tempo que João Lourenço mandava cessar também o contrato com uma empresa de outros dois filhos de José Eduardo dos Santos para gestão de um canal da televisão pública, e rapidamente a notícia tomou conta
de todas as conversas em Luanda e não só.
O presidente é agora tido como gozando de enorme popularidade devido às remodelações levadas a cabo.
A demissão de Isabel dos Santos da Sonangol segue-se a um encontro do presidente com directores de companhias petrolíferas, algo que especialistas afirmam, que nunca em 40 anos, os diretores das companhias petrolíferas tinham pedido uma entrevista ao Presidente da
República para fazerem queixas que o sector estava parado, não andava, e que precisava de medidas.
Na sequência, o Presidente João Lourenço, deu 30 dias, a contar de 13 de outubro, para um grupo de trabalho, que integrava as principais petrolíferas que operam em Angola e a Sociedade Nacional de Combustíveis, apresentar propostas para melhorar o desempenho da
indústria nacional de petróleo e gás.
A falta de negociação da Sonangol com as companhias que operam no pais, atrasos nos pagamentos por parte da concessionária e outras alegadas exigências colocadas às companhias petrolíferas, são também apontadas como sendo falhas da gestão de Isabel dos Santos.
Por outro lado, a crise que se regista no sector cimenteiro serviu igualmente para destapar o conflito de interesses entre os negócios de Isabel dos Santos, e as questões de interesse do estado angolano, cujo diálogo nunca foi transparente.
Para o jornalista e analista político, José Kaliengue, o decreto presidencial aprovado por José Eduardo dos Santos pouco antes de abandonar o poder , que fazia alterações ao estatuto orgânico da Sonangol, foi determinante para sentenciar o mandato efémero de Isabel dos Santos.
Kaliengue disse também ser importante notar a “pressão pública principalmente nas redes sociais”, embora isso não fosse “tão determinante “ para a decisão.
O jornalista disse não poder afirmar-se se esta curta passagem de Isabel dos Santos irá afectar a sua imagem de empresária e gestora.
“Só se fizermos análise da forma como decorrem os outros negócios todos é que poderemos saber se Isabel dos Santos tem ou não mérito em termos de gestão”, disse Kaliengue que recordou que aquando da nomeação de Isabel dos Santos para a Sonangol as reacções foram “meramente no plano político” alegando nepotismo mas não discutindo a sua capacidade empresarial.
Para o economista António Carlos a decisão de João Lourenço tem a ver com os objectivos da sua governação e da confiança que pretende criar entre os membros do seu executivo.
Para esse objectivo o presidente “seleciona as pessoas que mais lhe convém”.
O economista disse que “do ponto de vista pratico o que se precisa estabelecer é um sistema de governação que permita que o protagonismo do agente público desapareça e o principal interesse público que serve os interesses do cidadão se realize”.
“Isso é que é fundamental porque caso contrário será apenas a substituição de pessoas”, acrescentou.
O politólogo Gildo Matias disse que não havia condições para Isabel dos Santos continuar na chefia porque não tinha sido sequer empossada pelo actual presidente afirmando também haver “uma dinâmica de redimensionamento do sector do petróleo em que a engenheira não terá tido a oportunidade ou pelo menos não terá sido considerada como uma interlocutora privilegiada neste processo”.
Matias disse que Angola atravessa um período de “afirmação do novo presidente “ que “passa necessariámente por uma mudança de estilo que já é popular”.
O politólogo avisou que “ a política não se mede pelos nomes mede-se pelos resultados”.
“Este período vai passar”, disse Matias para quem Angola atravessa “uma mudança de ciclo, uma mudança de presidente, uma fase de afirmação” mas que no futuro terá que se avaliar os resultados dessa mudança