Diretor do Instituto Brasil do Centro Woodrow Wilson Paulo Sotero avalia o estado diplomático entre os dois países, face ao adiamento da visita oficial da presidente a Washington marcada para Outubro.
WASHINGTON, D.C., 20 DE SETEMBRO DE 2013 —
As relações entre o governo brasileiro e americano continuam estremecidas. A actual situação é fruto das alegadas acções de espionagem da Agência Nacional de Segurança americana sobre cidadãos brasileiros, órgãos estatais, bem como sobre a presidente do Brasil Dilma Rousseff e seus assessores. Por julgarem insatisfatórias as respostas da Casa Branca sobre o tema, os estadistas brasileiros tomaram uma série de medidas políticas, ligadas à relação entre ambos os países.
O adiamento da visita oficial da presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada originalmente para o dia 23 de outubro, é o mais recente, e mais notável, ato do governo brasileiro em resposta à ausência de um esclarecimento definitivo sobre as alegações de espionagem por parte do governo americano. A decisão, anunciada como bilateral, foi divulgada nesta terça-feira, em nota oficial de ambos os governos. Ela ocorreu um dia após conferência por telefone entre o presidente Obama e a chefe de estado brasileira, em que participou ainda o ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo, com quem Dilma Rousseff havia se reunido anteriormente, em vista do retorno do chanceler à Brasília após tratativas com a conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos Susan Rice. O jornalista e director do Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson para académicos Paulo Sotero avalia como os governos constatam essa situação:
“Eu creio que há um certo constrangimento da parte do governo Obama, como há uma grande frustração da parte do governo da presidente Dilma Rousseff, afinal a presidente Dilma Rousseff, junto com o presidente Obama, empenharam-se nos últimos dois anos e meio para reconstruir uma relação bilateral que estava detonada ao final da administração Lula por causa de eventos envolvendo Irã, Honduras, e alguns outros.”
“Eu creio que a presidente Dilma Rousseff tem justificado um sentimento de frustração ao mesmo tempo que precisava fazer um gesto para demonstrar no Brasil que, enfim, o país se leva a sério e que actividades como as que foram alegadas são coisas injustificáveis quando ocorrem entre países que se dizem amigos.”
Segundo Sotero, as implicações do adiamento, mesmo que de forma colateral, extrapolam o campo da política externa.
“A presidente (Rousseff) vai até se beneficiar, de alguma forma, politicamente, em casa, pela decisão que tomou, embora eu não creio que isto seja o motivo pelo qual ela decidiu adiar a vinda a Washington.”
O director interpreta que a medida tomada, entre as alternativas possíveis, deixa aberta a possibilidade de diálogo entre os governos, porém ressaltou a efemeridade da acção.
“Ela (Dilma Rousseff) poderia vir e ter uma visita completamente sem conteúdo, porque o ambiente já não permitia mais que avançassem no tratamento de temas como maior cooperação em defesa, comércio e educação porque não havia clima para isso.”
“A outra alternativa teria sido cancelar a visita, como aliás sugeriram até pessoas do próprio gabinete (da presidente Rousseff), chamar o embaixador de volta à Brasília e fazer gestos fortes de protesto. Ela escolheu também não fazer isso para deixar o caminho aberto e procurou, juntamente com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, encontrar um caminho até para anunciar algo que era delicado, que é, obviamente, frustrante, que não é o que nem um lado nem o outro queria, mas que pudesse administrar esse momento negativo, então escolheu o adiamento da visita.”
“Agora a questão é se de fato é um adiamento. Os dois presidentes têm que demonstrar que este é um adiamento, que isso não é um cancelamento.”
Sotero crê que um agravamento da tensão que marca a relação entre os dois países no momento não é provável, mesmo em face do anúncio de que a presidente abordará o assunto em seu discurso inaugural na Assembleia Geral da ONU, marcada para o dia 24, em Nova Iorque.
“Não creio que os governos estejam interessados em aumentar a tensão entre os dois países. O Brasil e os Estados Unidos compartilham vários interesses, há um número crescente de empresas brasileiras globais nos Estados Unidos, há uma presença tradicional, importante e positiva de empresas dos Estados Unidos no Brasil, o Obama e a Dilma sabem disso perfeitamente, sabem que governam dois países que são democracias, que são economias importantes no mundo e que podem se beneficiar de uma relação mais próxima.”
“Eu creio que é por isso que eles (Rousseff e Obama) se engajaram nos últimos dois anos e meio numa aproximação. A presidente Dilma Rousseff promoveu o maior intercâmbio de estudantes na história. Cerca de 10 mil estudantes brasileiros, nos últimos dois anos e meio até esse fim de ano, terão passado ou estarão nos Estados Unidos. É uma política do programa Ciências Sem Fronteiras muito bem acolhida nos Estados Unidos e que mostra que ela (Dilma Rousseff) tem interesse em uma relação mais profunda, mais consequente, com os Estados Unidos.”
Contudo, Sotero afirma que é necessário que os governos marquem uma nova visita para que haja uma aproximação na relação entre ambos. Esse acontecimento, por sua vez, depende do teor da resposta que a Casa Branca dará à presidente Dilma Rousseff. No momento, não há previsão para que isto ocorra, visto que não foi estabelecido prazo para tanto nos recentes anúncios do adiamento.
O adiamento da visita oficial da presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada originalmente para o dia 23 de outubro, é o mais recente, e mais notável, ato do governo brasileiro em resposta à ausência de um esclarecimento definitivo sobre as alegações de espionagem por parte do governo americano. A decisão, anunciada como bilateral, foi divulgada nesta terça-feira, em nota oficial de ambos os governos. Ela ocorreu um dia após conferência por telefone entre o presidente Obama e a chefe de estado brasileira, em que participou ainda o ministro das Relações Exteriores Luiz Alberto Figueiredo, com quem Dilma Rousseff havia se reunido anteriormente, em vista do retorno do chanceler à Brasília após tratativas com a conselheira de Segurança Nacional dos Estados Unidos Susan Rice. O jornalista e director do Instituto Brasil do Centro Internacional Woodrow Wilson para académicos Paulo Sotero avalia como os governos constatam essa situação:
“Eu creio que há um certo constrangimento da parte do governo Obama, como há uma grande frustração da parte do governo da presidente Dilma Rousseff, afinal a presidente Dilma Rousseff, junto com o presidente Obama, empenharam-se nos últimos dois anos e meio para reconstruir uma relação bilateral que estava detonada ao final da administração Lula por causa de eventos envolvendo Irã, Honduras, e alguns outros.”
“Eu creio que a presidente Dilma Rousseff tem justificado um sentimento de frustração ao mesmo tempo que precisava fazer um gesto para demonstrar no Brasil que, enfim, o país se leva a sério e que actividades como as que foram alegadas são coisas injustificáveis quando ocorrem entre países que se dizem amigos.”
Segundo Sotero, as implicações do adiamento, mesmo que de forma colateral, extrapolam o campo da política externa.
“A presidente (Rousseff) vai até se beneficiar, de alguma forma, politicamente, em casa, pela decisão que tomou, embora eu não creio que isto seja o motivo pelo qual ela decidiu adiar a vinda a Washington.”
O director interpreta que a medida tomada, entre as alternativas possíveis, deixa aberta a possibilidade de diálogo entre os governos, porém ressaltou a efemeridade da acção.
“Ela (Dilma Rousseff) poderia vir e ter uma visita completamente sem conteúdo, porque o ambiente já não permitia mais que avançassem no tratamento de temas como maior cooperação em defesa, comércio e educação porque não havia clima para isso.”
“A outra alternativa teria sido cancelar a visita, como aliás sugeriram até pessoas do próprio gabinete (da presidente Rousseff), chamar o embaixador de volta à Brasília e fazer gestos fortes de protesto. Ela escolheu também não fazer isso para deixar o caminho aberto e procurou, juntamente com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, encontrar um caminho até para anunciar algo que era delicado, que é, obviamente, frustrante, que não é o que nem um lado nem o outro queria, mas que pudesse administrar esse momento negativo, então escolheu o adiamento da visita.”
“Agora a questão é se de fato é um adiamento. Os dois presidentes têm que demonstrar que este é um adiamento, que isso não é um cancelamento.”
Sotero crê que um agravamento da tensão que marca a relação entre os dois países no momento não é provável, mesmo em face do anúncio de que a presidente abordará o assunto em seu discurso inaugural na Assembleia Geral da ONU, marcada para o dia 24, em Nova Iorque.
“Não creio que os governos estejam interessados em aumentar a tensão entre os dois países. O Brasil e os Estados Unidos compartilham vários interesses, há um número crescente de empresas brasileiras globais nos Estados Unidos, há uma presença tradicional, importante e positiva de empresas dos Estados Unidos no Brasil, o Obama e a Dilma sabem disso perfeitamente, sabem que governam dois países que são democracias, que são economias importantes no mundo e que podem se beneficiar de uma relação mais próxima.”
“Eu creio que é por isso que eles (Rousseff e Obama) se engajaram nos últimos dois anos e meio numa aproximação. A presidente Dilma Rousseff promoveu o maior intercâmbio de estudantes na história. Cerca de 10 mil estudantes brasileiros, nos últimos dois anos e meio até esse fim de ano, terão passado ou estarão nos Estados Unidos. É uma política do programa Ciências Sem Fronteiras muito bem acolhida nos Estados Unidos e que mostra que ela (Dilma Rousseff) tem interesse em uma relação mais profunda, mais consequente, com os Estados Unidos.”
Contudo, Sotero afirma que é necessário que os governos marquem uma nova visita para que haja uma aproximação na relação entre ambos. Esse acontecimento, por sua vez, depende do teor da resposta que a Casa Branca dará à presidente Dilma Rousseff. No momento, não há previsão para que isto ocorra, visto que não foi estabelecido prazo para tanto nos recentes anúncios do adiamento.