Rebeldes reivindicam deposição do Presidente sírio que abandonou o país

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Residentes celebram a chegada dos rebeldes da oposição a Damasco, na Síria, 8 dezembro de 2024.

Presidente americano Joe Biden diz estar a acompanhar os "acontecimentos extraordinários" na Síria

Rebeldes sírios liderados por islamistas declararam ter tomado a capital do país, Damasco, numa ofensiva relâmpago nas primeiros horas deste domingo, 8, hora local, e que o Presidente Bashar al-Assad deixou o país, o que significa o fim de cinco décadas do Governo de Baath.

O diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, Rami Abdurrahman, disse à AP que Assad deixou o país num avião para um local não revelado.

A televisão estatal do Irão, cujo Governo foi o principal apoiante de Assad nos anos de guerra na Síria, informou que Assad tinha deixado a capital.

Os habitantes da capital síria saíram às ruas para celebrar.

Biden aconpanha "acontecimentos extraordinários"

Em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional informou que o Presidente norte-americano, Joe Biden, está a acompahar os "acontecimentos extraordinários" que estão a decorrer na Síria.

“O Presidente Biden e a sua equipa estão a monitorizar de perto os acontecimentos extraordinários na Síria e a manter-se em contacto constante com os parceiros regionais”, sublinhou Sean Savett, num comunicado divulgado nas redes sociais.

Antes, neste sábado, a Casa Branca disse que as prioridades dos EUA na Síria são agora garantir que o conflito não encoraje o ressurgimento do grupo radical islâmico autointitulado Estado Islâmico (EI) ou leve a uma “catástrofe humanitária”.

As repercussões “são uma preocupação”, afirmou o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan, que destacou a particular preocupação com o EI.

Nas fases anteriores da longa guerra civil da Síria, "no seu pior, vimos a explosão do EI em cena", comentou Sullivan numa conferência em Simi Valley, na Califórnia, organização pelo Fórum de Defesa Nacional Reagan.

Ele enfatizou que a prioridade é garantir “que os combates na Síria não levem ao ressurgimento do EI” e avisou que "vamos tomar medidas, diretamente e trabalhar com as Forças Democráticas Sírias, os Curdos, para garantir que tal não aconteça".

Os EUA têm cerca de 900 soldados na Síria, incluindo forças que trabalham com aliados curdos no nordeste controlado pela oposição para evitar qualquer ressurgimento do grupo EI segundo a Associated Press.

Fim de um regime de 50 anos

A alegada saída do Presidente acontece menos de duas semanas desde que o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) lançou uma forte campanha contra cinco décadas de Governo da família Assad.

"Após 50 anos de opressão sob o Governo do Baath e 13 anos de crimes, tirania e deslocações (forçadas)... anunciamos hoje o fim deste período sombrio e o início de uma nova era para a Síria", afirmaram as facções rebeldes em Telegrama.

O primeiro-ministro Mohammed al-Jalali disse estar pronto para cooperar com “qualquer líder escolhido pelo povo sírio”.

“Estou na minha casa e não saí, e isso deve-se ao facto de pertencer a este país”, disse Jalili num comunicado em vídeo, acrescentando que iria ao seu escritório para continuar o trabalho de manhã e pediu aos cidadãos sírios que não estragassem a propriedade pública.

Um jornalista da AP em Damasco relatou ter visto grupos de residentes armados ao longo da estrada nos arredores da capital e ouvido sons de tiros.

A principal sede da polícia da cidade parecia abandonada, com a porta entreaberta e sem polícias no exterior.

Outro jornalista da AP filmou um posto de controlo militar abandonado, onde os uniformes foram deixados no chão,debaixo de um cartaz com o rosto de Assad.

Esta é a primeira vez que as forças da oposição chegaram a Damasco desde 2018, quando as tropas sírias recapturaram áreas nos arredores da capital após um cerco que durou anos.

A rádio pró-governamental Sham FM informou que o aeroporto de Damasco foi evacuado e todos os voos interrompidos.

Os insurgentes anunciaram também que tinham entrado na conhecida prisão militar de Saydnaya, a norte da capital, e “libertado” os seus prisioneiros.


No sábado, 7, forças da oposição tomaram a cidade central de Homs, a terceira maior da Síria, enquanto as forças governamentais a abandonavam.

Nos dias anteriores, os rebeldes já tinham tomado as cidades de Alepo e Hama, bem como grande parte do sul, numa ofensiva relâmpago que começou a 27 de novembro.

C/ AP e AFP