O exército da República Democrática do Congo (RDC) negou no domingo que 20 combatentes ligados ao genocídio ruandês tenham sido capturados no seu território, qualificando de “falso” um vídeo da sua entrega ao Ruanda.
A declaração foi feita após o grupo armado M23 ter afirmado no sábado, 1, que tinha capturado combatentes das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), uma milícia fundada por elementos da etnia Hutus que participaram no genocídio dos Tutsis no Ruanda em 1994.
O Ruanda há muito que aponta a alegada presença das FDLR no leste da RDC para justificar o seu apoio ao M23.
Com o apoio do Ruanda - segundo a RDC e a comunidade internacional - o M23 apoderou-se, nos últimos meses, de vastas áreas do conturbado leste da RDC, rico em minerais, incluindo as principais capitais provinciais de Goma e Bukavu.
O M23 divulgou um vídeo que mostra as suas forças a entregar 20 alegados combatentes das FDLR ao Ruanda num posto fronteiriço entre os dois países.
“Trata-se de um incidente falso de mau gosto, orquestrado com o único objetivo de desacreditar o nosso exército”, declarou em comunicado o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas congolesas.
Isto faz parte da estratégia do Ruanda para justificar a invasão de partes do território da RDC".
“As autoridades ruandesas, especializadas na arte da mentira e da manipulação, pegaram em antigos detidos das FDLR, vestiram-lhes com novos fatos militares e fizeram-nos passar por combatentes das FDLR recém-capturados em Goma.”
O alto comando da RDC acusou também o exército ruandês de “execuções sumárias” de soldados feridos e doentes num hospital de campanha em Goma, o que “constitui um crime de guerra e um crime contra a humanidade”, afirmou.
A escalada do conflito no leste da RDC tem suscitado receios de que possa transformar-se numa guerra regional mais vasta, envolvendo o Ruanda, o Uganda e outros países.
ARQUIVO: Soldados do 214.º Batalhão de Polícia das Forças Armadas da RDC e soldados das Forças de Defesa Popular do Uganda (UPDF) na Operação Shujaa no leste da República Democrática do Congo, em 17 de dezembro de 2024.
Exército ugandês desloca-se para uma cidade no nordeste da RDC
O exército ugandês confirmou no domingo que enviou tropas para outra cidade da RDC para combater os grupos armados locais, entre receios de que um conflito violento possa transformar-se numa guerra mais vasta.
“As nossas tropas entraram na cidade de Mahagi e estamos a controlar”, disse o porta-voz da defesa e dos assuntos militares do Uganda, Felix Kulayigye.
Veja Também Burundi e Uganda posicionam-se à medida que a violência na RDC alastraO destacamento foi solicitado pelo exército congolês na sequência de alegados massacres de civis perpetrados por uma milícia conhecida como a Cooperativa para o Desenvolvimento do Congo (Codeco), disse, sem fornecer mais pormenores.
Mahagi situa-se na província de Ituri, que faz fronteira com o Uganda, onde pelo menos 51 pessoas foram mortas a 10 de fevereiro por homens armados ligados à Codeco, segundo fontes humanitárias e locais.
A Codeco afirma defender os interesses da comunidade Lendu, maioritariamente composta por agricultores, contra a comunidade Hema, maioritariamente pastores.
O Uganda já tem milhares de tropas noutras partes de Ituri ao abrigo de um acordo com o governo congolês.
Veja Também EUA aplicam sanções ao Ruanda e ao M23No mês passado, o Uganda anunciou que as suas tropas tinham “tomado o controlo” da capital da província, Bunia.
Ituri fica a norte das províncias de Kivu Norte e Kivu Sul, que no final de janeiro caíram sob o controlo do M23.
Os analistas temem que a presença crescente do Uganda e do Ruanda no leste da RDC possa levar a uma repetição da chamada Segunda Guerra do Congo, que durou de 1998 a 2003, envolvendo muitos países africanos e resultando em milhões de mortos devido à violência, doenças e fome.