Raptos em Moçambique: Solução passa pela "limpeza" nas forças policiais e de segurança

Cidade de Maputo, Moçambique

Procuradora-Geral da República alertou para infiltração de criminosos

A onda de raptos em Moçambique continua a preocupar empresários, com alguns a deixarem o país, e autoridades governamentais que reconheceram ser um problema real e que deve ser enfrentado.

Analistas políticos alertam que enquanto o recrutamento de jovens para as forças policiais e sobretudo para o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) for feito através de esquemas de corrupção, nepotismo e amiguismo, o Governo não vai conseguir combater os raptos, alguns dos quais, segundo o próprio Governo, são perpetrados por agentes da polícia.

Esta semana, a ministra do Interior, Arsénia Massingue, e a Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, disseram ser necessário purificar as fileiras das instituições da lei e ordem, com vista a uma maior eficácia no combate aos raptos e ao crime organizado em geral.

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O deputado da Assembleia da República pela bancada da Renamo José Manteigas diz que este discurso não é novo e acrescenta que há muita corrupção no recrutamento de pessoas particularmente para o SERNIC porque "alguns dos responsáveis daquela instituição é que levam os seus filhos, sobrinhos e pessoas mais próximas, sem nenhuma vocação para aquela área".

Manteigas avança que terminou, muito recentemente, o recrutamento de sete mil jovens para serem formados como agentes da Polícia da República de Moçambique e muitos deles pagaram entre 60 e 70 mil meticais para ingressarem nas instituições da lei e ordem.

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Para José Manteigas, "é através desse esquema de corrupção que o crime organizado se infiltra nas instituições, porque para o crime organizado, que pretende fragilizar as instituições, não custa nada pagar até 80 mil meticais".

Nova estratégia

"É por isso que temos criminosos nas fileiras da polícia e do SERNIC e enquanto não tivermos uma estratégia criteriosa e cautelosa de selecção de futuros agentes nunca teremos as fileiras das forças da lei e ordem purificadas", realça aquele também jurista.

O jornalista Fernando Lima entende, entretanto, que tendo em conta o facto de que os criminosos já estão infiltrados é necessário desencadear um combate sério dentro das instituições e melhorar os critérios de selecção dos futuros agentes.

Aquele analista refere que, para alguns agentes da polícia, o seu envolvimento em actos criminosos, sobretudo os raptos que têm tido como principais alvos os empresários e seus familiares, é uma forma do seu próprio benefício em termos materiais, "logo, sem um combate eficaz no seio da própria polícia, é muito difícil essa eficácia contra os raptos”.

O sociológo Moisés Mabunda diz que isso não é feito porque é toda a hierarquia envolvida, para além de critérios não claros de selecção dos candidatos a membros da polícia.

Para aquele analista político, o problema "é estrutural e precisa de um terapia muito grande, sobretudo porque nós em Moçambique não punimos os prevaricadores”.

Entretanto, a Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, assume que alguns raptos foram perpetrados por agentes policiais, sublinhando que "estamos preocupados com a infiltração de criminosos no nosso seio; não podemos continuar a ter casos de assaltos à mão armada e raptos, perpetrados por alguns indivíduos que ingressam nas nossas instituições.