No Radar Magrebe Lusófono #5 explorámos a perspectiva alternativa do Professor Yussuf Adam, Historiador da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e também Pesquisador desde a década de 70, na Província de Cabo Delgado, o qual dá foco à questão da disputa pela terra fértil, entre Macondes e Mwanis.
Neste Radar, gostaríamos de dar voz ao Professor Chapane Mutiua, Investigador do Centro de Estudos Africanos da (UEM), o qual compara o 11.º Congresso da Frelimo", que terminou a 02 de outubro, "com a queda do muro de Berlim, no contexto da guerra fria". Na altura, "com o fim das clivagens entre comunistas e capitalistas, procurou-se um novo inimigo”. Ou seja, o reforço dos Poderes do Presidente Nyusi, poderá aproximá-lo de Dhlakama, com vista à assinatura de um novo Acordo de Paz. Aliás, Nyusi já anunciou que um (2º) encontro está para breve.
Ora, conclusão minha e não de Mutiua, a procura do novo inimigo comum, após Mocímboa da Praia, poderá naturalmente ir ao encontro dos vários movimentos prosélitos de cariz islâmico, que circulam de norte a sul de Moçambique e que têm base na vizinha África do Sul.
África do Sul, que merece nesta fase, passado mais de um mês dos acontecimentos, uma referência especial. Isto, porque quando é referido que uma das causas da “sunização” de Moçambique (o Islão praticado em Moçambique pelos moçambicanos autóctones africanizou-se, estando sujeito a práticas sincréticas, misturando religião com cultura e tradições.
Ora quem vem formado de fora, inicia um “processo de correcção” junto das populações, trazendo-as para a prática da Sunnah, tal qual o Profeta o fez. É a isto que refiro como processo de “sunização”, mais do que islamização das populações).
Retomando o raciocínio, quando é referido que uma das causas da “sunização” de Moçambique está no regresso de alunos “religiosos” que se formaram no Golfo, no Sudão, Egipto e, mais longinquamente Argélia e Líbia, nunca é referida a vizinha e próxima África do Sul, que nos últimos 10 anos tem servido de alternativa a todos/as aqueles/as (também há internatos para raparigas), que não têm capacidade económica para pagar a viagem e o curso, mesmo que lhes seja atribuída qualquer tipo de Bolsa. Aliás, o surgimento de projectos urbanísticos, exclusivamente para muçulmanos sul-africanos de origem indiana e paquistanesa, como Azaadville e Zakariyya, nos arredores de Joanesburgo, responderam também a esta necessidade vizinha. Estes condomínios vivem em função da Madrassa Central, uma Darul Uloom, Casa de Conhecimento, que funciona em regime de Internato.
Escusado será dizer que a vida nestas “ilhas de terra”, se rege pela Lei Islâmica, que os tutores/professores pertencem à tal geração formada no Golfo, Índia e Paquistão e, que estas escolas têm profundas ligações com as principais mesquitas de Maputo, as quais escolhem entre os melhores alunos das suas próprias madrassas, para receberam formação mais avançada perto de Joanesburgo, a poucas horas de distância de autocarro. Ou seja, já se podem identificar duas gerações distintas de “sunizadores” de Moçambique. A mais velha com formação no Golfo, Sudão e Egipto e, a mais nova, com formação na África do Sul.
MARROCOS/ARÁBIA SAUDITA
Entre as demissões de 3 ministros marroquinos há duas semanas e as recentes detenções/demissões na Arábia Saudita, por incomparáveis que sejam, têm um ponto em comum.
A desonra com que os detidos/demitidos sairam de cena. Sempre houve decoro na gestão da saída de cena de detentores de cargos políticos/públicos nestes países, mas estes dois episódios marcam um outro patamar, o qual poderá ter consequências.
No caso de Marrocos, o Rei Mohammed VI não demitiu apenas 3 ministros, 1 Secretário-de-Estado e um Director-Geral. As consequências desta “ira Real” atingiu também ex-ministros e, todo este pacote de personalidades, fica(ou) ad eternum impedido do exercício de cargos públicos. Ora o que é que um pária tem a perder, quanto mais se aproxima da morte e se distancia da Glória?
Felizmente, o cenário em Marrocos está longe da Guerra de Clãs que já se vive na Arábia Saudita.
Quanto a esta purga saudita e, visto os mais que ousados avanços registados, Mohammed bin Salman deverá estar mais que seguro que tem a situação sobre total controlo, pelo poder de fogo que já reuniu, mas também porque congelando as contas bancárias dos primos, lhes tira a fonte de Poder e, parece-me ser este o objectivo Número Dois desta audácia. Ou seja, fazer reverter as colossais fortunas destes “primos perigosos”, para o esforço de guerra com o Iémen e, combater a desvalorização do Rial. O objectivo Número Um é, natualmente, a consolidação de Poder e assegurar desde já a sucessão.
Politólogo/Arabista/Colaborador VOA/Radar Magrebe