Radar Magrebe Lusófono #15 : IX Congresso do PAIGC ou “IX Golpe”?

Sede do PAICG, Bissau

O que corre no vox populi de Bissau, é a intenção de forçar a colocação de Braima Camará como líder do PAIGC, para ser este a negociar com a CEDEAO a saída desta crise constitucional no país. (Artigo do Politólogo/Arabista/Colaborador VOA, Raul M. Braga Pires)

O mais normal que aconteceu no dia inaugural do IX Congresso do PAIGC foi a nomeação de um novo Primeiro-Ministro, Artur Silva, pelo Presidente José Mário Vaz (JOMAV).

Quanto ao Congresso, que se iniciou na Sede Nacional do PAIGC, em Bissau, viu este espaço finalmente invadido durante a noite. Digo finalmente, já que as ameaças eram mais que muitas, já desde o fim-de-semana, sobre a legalidade da realização deste conclave que visa confirmar Domingos Simões Pereira (DSP) como líder do Partido, ou eleger outro.

De Providência Cautelar em Providência Cautelar (apresentadas em vários tribunais que não o da capital), de anulação destas em anulação, foi-se alimentando a esperança quanto à realização deste Congresso.

As “forças da ordem” forçaram a entrada no recinto, carregados de mochilas às costas e alegando irem em busca de armas de fogo e brancas, que estariam ilegalmente escondidas na sede partidária, desalojando os cerca de 200 congressistas no local.

Acrescentar que tudo se passou perante a passividade do destacamento militar da ECOMIB, o qual já desde o final de semana estava na praça principal da capital, precisamente para garantir a realização desta Assembleia do maior Partido bissau-guineense.

DSP, actual líder do PAIGC, responsabiliza o PR JOMAV, também ele um destacado membro do PAIGC, de estar a bloquear o país para proveito próprio e apela à CEDEAO, que tem pendente uma série de sansões à Guiné-Bissau e respectivo PR, por não ter conseguido cumprir qualquer dos prazos estabelecidos para a resolução da crise política no país, apela, dizia, para o desbloquear deste braço-de-ferro entre Presidência e Tribunais.

Precisamente a chegada da Delegação da CEDEAO, parece ser a chave para esta invasão. O que corre no vox populi de Bissau, é a intenção de forçar a colocação de Braima Camará como líder do PAIGC, para ser este a negociar com a CEDEAO a saída desta crise constitucional no país. Desta forma e, a ser verdade, o Grupo dos 15 “PAIGCistas” dissidentes do Partido e, entretanto, reintegrados e alinhados com o PR JOMAV, querem tomar conta deste (do Partido e do Presidência). Digo-o desta forma, já que há outros nomes do Grupo dos 15 envolvidos neste plano.

Em conclusão, se é que se podem tirar conclusões da/na Política bissau-guineense, esta permanente instabilidade favorece o recente regresso do ex-PM Carlos Gomes Júnior, que deverá ter como projecto de vida a conquista da Presidência, vingando assim a sua saída forçada do país e da Primatura, aquando do Golpe de Estado de Abril de 2012.

Seria bom que este processo significasse o fim de um ciclo político na Guiné-Bissau, agora que a população e restantes partidos políticos do país, se manifestam frente à Sede das Nações Unidas. Mas o “olho clínico” necessário, indica precisamente o contrário, o que levará de novo a uma consensualidade bissau-guineense, sobre o desejo de ver o país governado, temporariamente e até ter a casa arrumada, pelas Nações Unidas, à imagem do período de transição timorense, o que também nunca deverá acontecer.

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Politólogo/Arabista/Colaborador VOA/Radar Magrebe