"Que sejamos a mudança que o mundo almeja. Faça a diferença," Moisés Mpova

  • Danielle Stescki

Moisés Ricardo Mpova, estudante de engenharia mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina

A matemática é um bicho de sete cabeças? Para algumas pessoas até pode ser, mas não para o estudante de engenharia mecânica Moisés Ricardo Mpova. O jovem, que estuda na Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, está desenvolvendo um projecto para inspirar, motivar e incentivar crianças que gostam de matemática e estimular aquelas que não gostam.

Em entrevista à Voz da América, Moisés falou sobre "Matemática com os kandengues," um projecto social sem fins lucrativos, que será implementado no Cazenga, Angola, assim que um espaço físico for disponibilizado.

Segundo Moisés, um pedido já foi feito à administração do município para que ele tenha acesso a uma sala no Centro de Formação Profissional. O jovem agora aguarda ansiosamente a resposta.

A equipa inicial é composta por cinco amigos e colegas do jovem que já se formaram na universidade e estão em Angola. Moisés contou que os amigos lhe pediram que o projecto não fique apenas no Cazenga.

"Comecei no Cazenga porque é o município que me viu nascer. Eu acredito que antes de mudar o mundo a mudança deve começar na nossa casa. A minha casa é Cazenga. Minha casa é Luanda. Minha casa é Angola. Minha casa é África. E poderia também fazer o projecto no Brasil, mas a mudança deve começar em minha casa".

Ricardo Mpova, escritor e declamador

O futuro engenheiro mecânico, que também é poeta - publicou o seu primeiro livro de poesias intitulado “A Fonte da Inspiração" em setembro de 2018 no Brasil - disse que a ideia é começar com uma turma de 20 kandengues. Moisés explicou que a palavra kandengue "kandenge" é de origem quimbundo, diminutivo de ndengue, e significa criança, pequeno ou mais novo.

O jovem gostaria que "Matemática com os kandengues," funcionasse o ano inteiro, ou pelo menos seis meses. Mas isso vai depender da equipa e dos voluntários que aderirem ao projecto, já que Moisés está fazendo a sua formação no Brasil.

"Ficarei muito feliz se tivermos uma equipa grande disposta a se doar a outras pessoas".

O amanhã se faz hoje," Moisés Mpova

A grande preocupação em formar o futuro do amanhã foi o que motivou Moisés a desenvolver "Matemática com os kandengues".

"Por ser um ramo do conhecimento extremamente útil na resolução de problemas, sejam eles cotidianos, sejam de carácter técnico-científico. Quanto mais cedo o kandengue despertar o gosto por ela melhor será o aprendizado".

O estudante de engenharia mecânica sublinhou que a teoria não é suficiente porque é com a prática que nós nos tornamos eficientes. "Para sermos bons amanhã, precisamos practicar hoje".

Ele pediu que as pessoas doem-se um pouco mais já que é tão importante que os kandengues aprendam os fundamentos da matemática cedo, porque assim estarão mais preparados para o futuro.

"Qualquer dificuldade que o kandengue tiver nessa fase infanto-juvenil se não for sanada se refletirá futuramente. Então eu falo isso porque tive dificuldades. Eu pensava: ah não o professor faltou à aula e eu não aprendi isso, pra mim tá bom. Se pudesse recuar ... me dedicaria mais quando comecei a aprender esses fundamentos".

Moisés Mpova concluiu a entrevista deixando uma mensagem. "É importante que os educadores encontrem uma forma de fazer com que os kandengues se sintam estimulados em aprender matemática, e não obrigados. Esse projecto visa em transformar estímulos externos em auto-motivação. No que tange à matemática muitos kandengues andam desestimulados e o que mais desestimula é errar e ficar com medo, com vergonha. Ser desmoralizado diante dos colegas e amigos. Portanto, a melhor forma de ajudar é acompanhar o kandengue desde cedo para que ele adquira a base. Consequentemente é a base que dá confiança".

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Jovem angolano quer que projecto social de matemática torne-se ponte para disseminar conhecimento


Além de ser estudante de engenharia mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Moisés Ricardo Mpova é autor, declamador, membro da Academia de Letras e Artes de Florianópolis (ADLA – Brasil), membro do Movimento Lev’Arte Angola e recentemente foi outorgado como Membro Internacional da Cultive “Art Littérature et Solidarité".