As aulas no ensino geral em Angola recomeçaram nesta segunda-feira, 6, com ameaças de greves e boicotes devido a atrasos no pagamento de subsídios de isolamento a professores nas chamadas zonas recônditas, muitos sem alojamento e com problemas de transporte.
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Depois de uma manifestação no Huambo, em Benguela vários professores decidiram paralisar as atividades, num ensaio para o que dizerm ser uma grande marcha à sede da província.
Em Benguela, província com mais de 5 mil beneficiários, vários professores, nos municípios do Bocoio e Caimbambo, faltaram ao regresso às aulas.
Abordado a propósito de um problema que leva já quase dois anos, o Ministério das Finanças explica, sem avançar datas para pagamentos, que está a trabalhar para dar autonomia às Delegações Provinciais.
O membro de uma comissão que dialoga com as autoridades, o professor Cláudio António, revelou à Voz da América que o mês de janeiro vai ser marcado por paralisações
“Como não somos um sindicato, não temos respaldo legal para decretar greve, por isso todas as segundas e sextas do mês de Janeiro teremos protestos à porta das Administrações Municipais, não haverá aulas”, disse António, acrescentando que “os professores estão cientes de que levarão faltas mas … é mesmo assim”.
Ele disse que a comissão tem estado em contacto "com outras províncias, como Huambo, Bié, Cabinda e as Lundas”.
Já no Huambo, onde é visível a intervenção do Sindicato dos Professores (SINPROF), pode vir a ser decretada ainda este mês uma greve à luz da legislação.
O secretário provincial da organização, Abel José, lamenta pagamentos a conta-gotas e resume o drama de professores sem acomodação em zonas recônditas.
“Os professores andam muitos chateados, estão apenas a pedir a data para nova marcha ou greve” diz José que alerta que o cenário “é mau para o país, mau para a qualidade de ensino, por isso gostaríamos de alertar a quem tem a obrigação de resolver o problema”.
O sindicalista acrescenta que “não temos meios de transporte naquelas zonas recônditas, não temos alojamento, por isso alguns professores, vergonhosamente, pernoitam nas casas dos sobas, em cabanas”.
Ele disse existirem casos em que um único agente terá de receber cerca de dois milhões de kwanzas, pouco mais de 2 mil dólares norte-americanos.
Contactado pela Voz da América, o Ministério das Finanças, que coloca o setor da Saúde na mesma equação, explica que o processamento salarial é feito a nível dos órgãos centrais, com constrangimentos dali decorrentes.
A solução, como esclarece o pelouro liderado pela ministra Vera Daves, passa por "medidas eficientes e céleres, como a atribuição de acessos desconcentrados às Delegações Provinciais das Finanças”
Observadores atentos recordam que esta situação coincide com o adiamento, de janeiro para março, do aumento salarial de 25 por cento em toda a função pública, após aprovação do Orçamento Geral de Estado peloa Assembleia Nacional, e revelam visíveis dificuldades em matéria de tesouraria.
Aliás, em dezembro o Presidente da República, João Lourenço, autorizou um acordo de financiamento de 500 milhões de dólares para reforço de tesouraria, tendo como credor o Standard Chartered Bank.
Acordos similares foram verificados ao longo do ano passado.